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Do eletrochoque ao prozac: a trajetória da biologização da depressão no discurso
psiquiátrico brasileiro (1942-1989)
Aproximadamente, todos os anos, algo em torno de 900.000 pessoas cometem suicídio no mundo. De acordo com a OMS, isso significa que a cada 40 segundos ocorre uma morte auto-infligida, sendo o suicídio a terceira maior causa de morte de pessoas na faixa etária entre 15 a 44 anos. Detalhe: a cada tentativa de suicídio que resulta em morte, há pelo menos vinte que “fracassaram”. E segundo projeções da OMS, isso tende a aumentar.1 O número de suicídios no mundo aumentou 60% nos últimos anos e é atualmente uma das três principais causas de morte entre a população jovem. Grande parte desse total, algo em torno de 85 %, vivem em países em desenvolvimento – como o Brasil – e situa-se nas classes Dados publicados pela OMS entre 2006 e 2010 apontaram também que o quadro clínico comumente caracterizado como “depressão” (em Psiquiatria, Transtorno Depressivo
Maior) é o fator que mais predispõe ao suicídio
A depressão atinge hoje, oficialmente, mais de 450 milhões de pessoas em todo o mundo. Está em quarto lugar entre as doenças que provocam o afastamento das pessoas de suas atividades cotidianas e, segundo projeções da OMS, em 2030 será a maior causa de afastamento e morte, a doença mais comum do mundo, tal qual são hoje, por exemplo, as A forma mais comum pela qual a depressão é tratada atualmente é através da terapia com antidepressivos e ansiolíticos. Segundo pesquisas feitas pela IMS Health em 20092, o consumo de antidepressivos cresceu de modo expressivo nos últimos anos, especialmente em países emergentes, como o Brasil, Índia, Rússia, México, Turquia e Coréia. Esses países representam juntos 50 % do consumo desse tipo de medicamento no planeta. Só no Brasil, a venda de antidepressivos e ansiolíticos aumentou 44,8 % entre os anos de 2005 e 2009, número considerado muito acima da média mundial. Ainda segundo a IMS Health, o ansiolítico benzodiazepínico comercializado como Rivotril, é atualmente o segundo * Graduada e Mestre em História pela UFPR. Doutoranda em História pela mesma Instituição, desde 1 Sobre os dados referentes ao suicídio no mundo e sua discriminação por continentes, ver o site http://www.who.int/features/qa/24/en/index.html. 2 Segundo notícia veiculada no site do jornal A Gazeta do Povo em 26 de dezembro de 2009. A IMS Health é um instituto que realiza pesquisas para autorias do mercado de medicamentos a pedido da ANVISA. medicamento mais vendido nas farmácias brasileiras, “perdendo” apenas para o O Conceito Atual de Depressão
O DSM – IV(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) caracteriza a Depressão (Transtorno Depressivo Maior) como um Transtorno de Humor em que um ou mais episódios de humor deprimidos se sucedem por um tempo de pelo menos duas semanas. Por Episódio Depressivo Maior, o DSM – IV entende: A característica essencial de um Episódio Depressivo Maior é um período mínimo de 2 semanas durante as quais há um humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades. (.) . O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui alterações no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões; ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. A fim de contabilizar para um Episódio Depressivo Maior, a presença de um sintoma deve ser recente ou então ter claramente piorado, em comparação com o estado pré-episódico da pessoa. Os sintomas devem persistir na maior parte do dia, praticamente todos os dias, por pelo menos 2 semanas consecutivas. O episódio deve ser acompanhado por sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. (DSM-IV, 2002: 348-349). Embora se caracterize pela permanência de um humor triste por um período relativamente longo de tempo, o Transtorno Depressivo Maior, segundo o discurso psiquiátrico atual, distingue-se da tristeza comum, sobretudo pelo tempo de duração dessa tristeza e de outros sintomas a ela associados, como perda de interesse por atividades cotidianas, sentimentos de auto-desvalorização, variações no sono, peso e apetite e ideação Segundo alguns autores, a velocidade dos processos psíquicos constitui outro elemento importante na caracterização de um quadro de Depressão Maior. SONENREICH define Depressão Maior como um quadro clínico caracterizado pela “. lentificação dos processo psíquicos (L) em um campo vivencial estreitado (E).”(SONENREICH,1999:85) O diminuição da velocidade dos processos psíquicos e motores denota a associação entre lentificação e peso e entre peso e tristeza profunda, como demonstra SONENREICH: 3 Segundo notícia postada no portal da Revista Época em 19 de fevereiro de 2009. Associamos a “lentidão” com a idéia de peso e, por intermédio desse, com tristeza. Na física, a aceleração corresponde a perda de peso. Um corpo submetido a uma aceleração maior que 8km/s perde o peso, libera-se da gravidade e escapa a atração terrestre, entre em órbita. A lentidão dos movimentos sugere grande peso, dificuldade de vencê-lo. O deprimido parece estar lentificado pelo peso enorme que suporta. (.) Não identificamos leveza com velocidade e alegria, mas é indiscutível que em muitos casos essa associação é válida. (SONENREICH, 1999:87). Ainda segundo SONENREICH, além da lentificação dos processos psíquicos e motores, outra característica que denota o estado depressivo é o estreitamento do campo vivencial: o deprimido vai se afastando de círculos de vivencia, iniciando pelos círculos sociais mais amplos – trabalho, escola, lazer com amigos – passando pelo circulo da vivencia familiar até o circulo psicológico e corporal. Primeiramente, evita o trabalho ou o estudo, depois passa a evitar situações de convívio familiar, num estágio seguinte, sente-se sem forças até mesmo para levantar da cama, sair do quarto, se alimentar ou tomar banho. É nesse estágio que pode se manifestar a ideação suicida. Segundo o saber psiquiátrico, os antidepressivos constituem a forma contemporânea mais usual de intervenção médica sobre esse processo, no entanto, como vimos anteriormente, tanto os casos de depressão quanto os de suicídio a ela relacionados vem aumentando vertiginosamente, sobretudo, nas três últimas décadas. Na mesma proporção vemos aumentar o número de pessoas medicadas com antidepressivos, no Brasil e no mundo. Mas, afinal, será que todas as pessoas que consomem antidepressivos podem ser consideradas doentes? A partir de que momento e por que a depressão passou a ser considerada uma doença passível de ser tratada com medicamentos? Como era o tratamento da depressão antes dos antidepressivos? A partir dessas problematizações, desenvolvemos essa investigação. Nosso objetivo central consiste em analisar as origens, o desenvolvimento e os desdobramentos do discurso médico-científico sobre a administração de psicofármacos para o tratamento da depressão no Brasil, recuando ao período imediatamente anterior ao aparecimento desse tipo de medicamento (na década de 1950) ou seja, aos anos de 1940, quando se expandiram as pesquisas e os tratamentos com ECT (Eletroconvulsoterapia) até 1989, quando começam as ser comercializados os psicofármacos do grupo dos ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina), dentre eles, a Fluoxetina e a Sertralina. Nosso intuito foi investigar, mediante a análise de artigos médicos publicados em revistas nacionais, as implicações teóricas e práticas de um determinado discurso que delineia os contornos da depressão como um distúrbio mental passível de ser tratado através de medicamentos. Partimos da hipótese de que a ampliação dos diagnósticos de depressão e o aumento na administração e consumo de psicofármacos faz parte de um contexto maior, caracterizado, entre outras coisas, pelo fortalecimento da Psiquiatria Biológica em detrimento da Psicanálise no tratamento de distúrbios mentais, contexto esse que pode ser elucidado a partir das discussões da historiografia brasileira atual sobre história da Psiquiatria e problematizado a partir do conceito de Biopolítica, do filósofo Michel FOUCAULT4. Antes dos Psicofármacos: a Terapia com ECT
Desde fins do século XVIII, quando Roess atestou que pacientes que sofriam de algum transtorno mental apresentavam melhora após serem inoculados com vacina contra a varíola, médicos favoráveis a uma explicação biológica para os chamados males da mente, cogitavam sobre a incompatibilidade entre esse tipo de doença e as convulsões. Mas foi somente nas primeiras décadas do século XX, entre 1917 e 1935, que métodos para a indução de choque fisiológico começaram a ser desenvolvidos. Primeiramente, Wagner-Jauregg ganhador do prêmio Nobel em 1927, utilizou febre induzida por malária para tratar paresia de origem neurosifilítica. Depois, em 1927, vieram as experiências com os comas e convulsões induzidos por insulina conduzidas pelo médico polonês Manfred Sakel para tratar esquizofrênicos. Em Budapeste, o neurologista Von Meduna, em 1934, utilizou metrazol para provocar convulsões em pacientes portadores de psicoses afetivas e esquizofrenia. Finalmente, em 1937, Ugo Cerletti e Lucio Bini desenvolveram a técnica da convulsoterapia elétrica (Eletroconvulsoterapia) para tratar, Num primeiro momento, esse tipo de tratamento estava voltado mais ao tratamento das chamadas psicoses, em especial, vinculadas a quadros clínicos de Esquizofrenia, e constituíam campo de interesse, sobretudo, dos adeptos de uma interpretação biológica das doenças mentais. A estes se opunham profissionais influenciados pelas ideias de Sigmund Freud e adeptos de uma interpretação psicológica, sobretudo, das neuroses. No entanto, tanto 4 O conceito de discurso que permeia este estudo relaciona-se à obra do filosofo Michel FOUCAULT (1926-1984). Em FOUCAULT discurso pode ser compreendido, em linhas gerais, como a expressão prática e teórica de um determinado tipo de saber. Dessa forma, não dissocia a ação da teoria, ou o poder do saber, visto que para este autor todo discurso é, em si, um exercício de poder. O poder se encontra distribuído nas mais diferentes estâncias sociais e se ancora em saberes, que, em nosso tempo, remetem ao universo acadêmico. Pode-se ainda entender discurso como o domínio comum de declarações que se manifestam, por vezes, sob a forma de enunciados e às vezes como prática reguladora e que tem como característica fundamental a pretensão de verdade. nos Estados Unidos e Europa, como no Brasil, antes e depois do advento dos psicofármacos, até os dias atuais, há relatos do uso de ECT também para tratar de casos de Depressão Maior, No Brasil, localizamos teses de Doutorado e artigos científicos sobre o uso de convulsoterapia a partir do ano de 1940, sendo os dois mais antigos artigos publicados na Revista de Neurobiologia de Pernambuco. Ambos versam sobre convulsoterapia induzida
por processos químicos: o primeiro, da autoria de João Marques de SÁ, e intitulado Considerações sobre a Convulsoterapia na Assistência a Psicopatas de Pernambuco, publicado em 1940, e o segundo, de Renê RIBEIRO, publicado na mesma revista em 1941 e intitulado Ensaio da Associação Picrotoxina-Pentametilenotetrazol na Convulsoterapia. Nossas pesquisas indicam até o momento que estudos clínicos sobre o emprego da convulsoterapia elétrica são publicados pela primeira vez no Brasil em 1943 nos Anais do
Instituto de Psiquiatria e trazem o cotejo entre a eletroconvulsoterapia e a convulsoterapia
química, provocada por Cardiazol (SOUZA, 1943). Naquele mesmo ano, um estudo chamou a atenção: o artigo de Paulo Pinto PUPO: Acidentes encefálicos da convulsoterapia, dos Arquivos da Assistência a Psicopatas do Estado de São Paulo. (PUPO, 1943)
Esses artigos versam, sobretudo, sobre o emprego da convulsoterapia em pacientes internados em instituições asilares. O número de textos relacionados ao tema cresce na segunda metade da década de 1940 e no ano de 1950 já é possível encontrar anúncios de aparelhos de terapia profunda a 220 KVP destinados ao tratamento com ECT. No entanto, descobertas realizadas na década seguinte viriam a modificar radicalmente esse quadro: o desenvolvimento de drogas psicoativas, a partir de 1951. Dos IMAOS ao Prozac: a trajetória da biologização da Depressão
José Caruso MADALENA, que atuou como Chefe das Pesquisas com Drogas Psicotrópicas na Casa de Saúde Dr. Eiras e Secretário Geral da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro, foi um dos principais responsáveis pelo estudo e introdução de psicofármacos na terapêutica psiquiátrica no Brasil. Em 1966, o médico e pesquisador, afirmava que a Psicofarmacologia, ao lado da Psicanálise e da Convulsoterapia, constituiu um dos três maiores marcos na história da terapêutica dos chamados males da mente.(MADALENA, Essa história teve início em 1950, ano em que a clorpromazina foi sintetizada na França por Laborit e utilizada em pacientes psiquiátricos por Delay e Deniker a partir de 1952. Criada inicialmente para ser um anti-histamínico – medicamento utilizado em processos decorrentes de reações alérgicas - observou-se que a clorpromazina era um tranqüilizante que agia sem provocar a sedação. (SOUZA, 1977: 443). Passou a ser testada em pacientes portadores de distúrbios mentais considerados graves, como a Esquizofrenia, atuando, portanto, como um neuroléptico (antipsicótico). A história dos psicofármacos destinados à terapia da depressão e da ansiedade também teve início na década de 1950. Os primeiros foram os chamados IMAOS (Inibidores da Monoaminoxidase). Em 1951, a Isoniazida, assim como seu derivado isopropílico, a Iproniazida, inicialmente utilizadas na quimioterapia da tuberculose, foi sintetizada por KLINE e utilizada no tratamento de pacientes deprimidos. Verificou-se que a Iproniazida produzia melhora no humor dos pacientes – tornava-os eufóricos, animados – sem que isso representasse uma melhora em seu estado físico. No mesmo ano, o laboratório ROCHE confiou a pesquisa das propriedades da droga a vários pesquisadores e em 1952, a American
Review of Tuberculosis publicava os primeiros artigos sobre o uso da Isoniazida em
pacientes deprimidos. Ainda em meados da década de 1950, o laboratório ROCHE lançava no mercado a Iproniazida sob o nome comercial de Marsilid. (SOUZA, 1977: 443). A monoaminoxidase é uma enzima presente em inúmeros tecidos e órgãos do corpo humano e que tem como uma de suas propriedades metabolizar monoaminas5 como a dopamina e a noradrenalina. O desequilíbrio na concentração de neurotransmissores (como a noradrenalina) no sistema nervoso central passou a ser então considerado uma das principais causas da depressão. Era o princípio da teoria de que a depressão, um episódio caracterizado como transtorno de humor ou transtorno afetivo, tinha uma causa química, orgânica, conforme destaca Ivan de SOUZA em artigo publicado em 1977 na revista A Folha Médica:
Ao nosso ver o que é mais importante na idéia de KLINE ao ensaiar a droga IPRONIAZIDA, é que as propriedades bioquímicas do psicofármaco levaram à teoria de que a depressão mental poderia ser resultado de um transtorno no metabolismo das aminas cerebrais. As experiências de KLINE levaram à síntese de novos fármacos com a mesma capacidade de inibir a MAO e que sejam menos tóxicos que a ISONIAZIDA. (SOUZA, 1977: 444). No Brasil, nessa mesma época, surgem os primeiros estudos e práticas psiquiátricas com Marsilid em pacientes internados e que apresentavam, entre uma gama variada de 5 Monoaminas são substâncias bioquímicas derivadas de aminoácidos que atuam no corpo humano sintomas, quadros de depressão. Esse é o caso do artigo publicado pelo Doutor Elso Naquele ano, o diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil e do Centro Psiquiátrico Nacional, publicou na revista médica O Hospital um artigo intitulado: A
Iproniazida em Psiquiatria. No artigo, apresentava os resultados iniciais de sua pesquisa com Marsilid em doses diárias que variavam entre 100 e 150 ml, a vinte e dois pacientes, com diferentes distúrbios psíquicos (psicóticos, esquizofrênicos, maníacos, melancólicos, oligofrênicos) e que apresentavam quadros de depressão. É importante mencionar que as amostras utilizadas na pesquisa foram cedidas pelo laboratório ROCHE, segundo informa o De acordo com os resultados narrados na pesquisa, vários dos pacientes tratados apresentaram piora em seu quadro clínico, outros, nenhuma alteração e poucos manifestaram alguma melhora. Na grande maioria dos casos (17 de 22) a medicação não apresentou os efeitos esperados e os pacientes foram reconduzidos ao tratamento por convulsoterapia elétrica. A seguir, transcrevemos um dos casos mencionados no artigo: ADAIR PEREIRA DE SOUZA GUIMARÃES – Reg. 23.952- 29-8-58 – 100 mg./ de Marsilid Oligofrenia + Depressão (esquizofrênica). Deprimida, idéias de auto-desvalorizaçãpo e de estar abandonada pela família. Obnubilada e apática. Sonolenta, queixa-se de peso no corpo. Pêso atual: 51,3000. Em 11-9-58: Quadro mental inalterado. Ansiedade, facies de grande sofrimento. Incontinência urinária. Pêso atual: 50,000. Em 2-9-58: Passou a tomar 150 mg./dia de Marsilid. Em 10-10-58: Foi interrompido o tratamento depois de 29 dias. O marido da doente, impaciente pelo fato da mesma não melhorar, pediu sua alta; 4 dias após, trouxe-a de volta dizendo que ela continuava acentuadamente deprimida e havia deixado cair dos braços sua filha de meses. Instituída a convulsoterapia elétrica. Após a 2 aplicação exibiu outra feição no seu quadro mental. Ficou sociável, sorridente, dizendo-se bem melhor. Em 3-10-58 Foi transferida para o H. Pedro II. Submetida a convulsoterapia elétrica, melhorou. Alta em 8-3-59, em remissão. (ARRUDA, 1959:73-74) O relato do Doutor Elso ARRUDA traz algumas informações interessantes: na paciente, a depressão faz parte de um quadro de distúrbio mental mais complexo, caracterizado como Oligofrenia. Nove dias após o início do tratamento, a paciente havia perdido peso, apresentava quadro de incontinência urinária e ansiedade. Foi então aumentada a dose para 150 mg diários. Passados 29 dias após o tratamento, sem melhora visível no quadro inicial, a administração de Iproniazida foi interrompida – ao que tudo indica, bruscamente – e a paciente obteve alta, por solicitação do esposo. O mesmo, quatro dias depois, solicitou sua reinternação. Transferida para o Hospital D.Pedro II, passou a ser tratada com um método mais convencional e até então bastante utilizado nesse tipo de caso: a eletroconvulsoterapia, ao final de algumas seções, a paciente se disse melhor. A casuística acima descrita não é a única do gênero. Nos primeiros tempos da introdução dos IMAOS em pacientes que apresentavam quadros de depressão, são comuns as anotações dos médicos a respeito dos efeitos colaterais relacionados a esse tipo de terapia e as considerações favoráveis ao retorno ao ECT como forma mais segura e confiável de tratamento, em que pese a ocorrência de acidentes encefálicos, em alguns casos, fatais, conforme apontado em artigo publicado por José Caruso Madalena na revista A Folha
Médica em 1981.
Em 1956 o pesquisador Roland Kuhn, da Clínica Psiquiátrica de Munster Linger apresentava ao mundo os resultados de seus estudos sobre as propriedades timolépticas da Imipramina (um protótipo imino-dibenzino tricíclico). Inicialmente testada como uma droga para o tratamento da esquizofrenia, Kuhn percebeu que a Imipramina agia de modo a bloquear o mecanismo de recaptação de alguns neurotransmissores: a serotonina, a norepinefrina e, em menor grau, da dopamina. O aumento da quantidade dessas aminas no cérebro parecia estar relacionado à melhora de um quadro depressivo, por isso, a partir de então, os medicamentos tricíclicos começaram a ser testados e usados como estratégia farmacológica para o Em virtude de sua alta toxidade, algumas drogas IMAO saíram de circulação ainda no final da década de 1950, entre elas, a droga Etriptamina (nome comercial Monase) que poderia ocasionar efeitos graves como uma doença no sangue conhecida como agranulocitose. Por apresentarem menos efeitos colaterais que os IMAOS, o estudo e a administração de tricíclicos rapidamente se difundiu nos Estados Unidos, Europa e também no Brasil. Dentre os primeiros medicamentos tricíclicos estudados e administrados no Brasil, estão o Tofranyl (nome comercial da Imipramina), a Amoxapina e a Amitriptalina. No entanto, a década de 1950 seria marcada ainda pela descoberta de um terceiro grupo de psicofármacos: as benzodiazepínicas. Estas acabariam se tornando as drogas mais consumidas pela população estadunidense nas décadas de 1960 e 1970 e constam entre as mais estudadas e indicadas também pelos psiquiatras brasileiros entre as décadas de 1970 e 1980. Os nomes de muitas delas são conhecidos do público em geral: Diazepam (nome comercial Valium), Clordiazepóxido (nome comercial Librium), Midazolam (nome comercial Dormonid), Alprazolam (nome comercial Frontal) e a mais popular de todas: Clonazepam (nome comercial no Brasil Rivotril). A sintetização dos primeiros compostos benzodiazepínicos teria ocorrido acidentalmente, em 1954, no laboratório da empresa farmacêutica Hoffmann-La ROCHE pelo químico de origem polonesa Leo Henryk Sternback quando este fazia experimentos para criar um corante químico.O composto criado recebeu o nome de Clordiazepóxido e passou a ser testado oficialmente em 1957, quando puderam ser verificadas suas propriedades ansiolíticas, hipnóticas, anticonvulsionantes e de relaxante muscular. Já em 1960 o medicamento poderia ser adquirido nas farmácias estadunidenses com o nome de Librium. No Brasil, a possibilidade da administração de benzodiazepínicos ou de sua combinação com outros medicamentos (como os tricíclicos) atraíram grandemente o interesse de psiquiatras envolvidos com o estudo e a terapêutica dos psicofármacos. Isso pelo fato dos medicamentos dessa espécie combinarem propriedades timolépticas com efeitos antipsicóticos e anticonvulsionantes, funcionando, especialmente, como ansiolíticos. Desde a introdução do primeiro composto benzodiazepínico, há pouco mais de 10 anos, importante progresso ocorreu no tratamento da ansiedade clínica pela obtenção de novos e mais potentes derivados. Atualmente, é forçoso admitir que os benzodiazepínicos constituem o maior avanço na terapêutica da ansiedade, o que não é devido somente à notável ação ansiolítica destes compostos, mas, também, à excepcional margem de segurança dos mesmos. (CIPARRONE, 1977: p. 117) Um exemplo disso foi o caso da Amoxapine, pesquisada e administrada por médicos brasileiros na década de 1970 por mostrar-se eficaz tanto no tratamento das psicoses de fundo afetivo quanto nas neuroses (SOUZA, 1977, p. 448). Vejamos a seguir, um estudo desenvolvido pelo então chefe de Psiquiatria Forense do Paraná, José Romildo GRABOWSKI e publicado no periódico A Folha Médica em 1977.
O autor descreve os resultados de um tratamento com Amoxapine em 21 pacientes tratados ao longo de quatro semanas em regime ambulatorial. O objetivo era verificar a tolerância desse medicamento, até então em pesquisa no Brasil. Segundo a conclusão do artigo, o medicamento se mostrou eficaz no tratamento de síndromes depressivas do tipo não endógeno, mas do tipo situacional e reativa, em que, segundo fala do próprio autor o objetivo desejava-se um efeito terapêutico a curto prazo: . A quase totalidade dos pacientes foi diagnosticada com neurose depressiva ou neurose hipocondríaca. Dos 21 pacientes incluídos neste estudo clínico, 10 já haviam sido submetidos a tratamentos anteriores sendo que 4 com eletrochoque e antidepressivos, e 6 com psicofármacos. A duração da doença depressiva era superior a seis meses em 14 casos, sendo que entre os 15 casos de neurose depressiva 5 pacientes apresentavam sintomatologia há menos de 6 meses, 6 casos entre 6 meses e 2 anos e em 4 o diagnóstico havia sido firmado há mais de 2 anos.(.) A avaliação psiquiátrica foi feita mediante uma escala para depressão com sete itens, aplicada semanalmente pelo mesmo investigador que atribuía os escores, variando de o a 4 em que 0=ausente, 1=leve,2=moderado, 3=grave, 4=muito grave. (.) O decréscimo das médias aritméticas dos sintomas da depressão, registrados durante o estudo clínico, evidenciam a ação favorável do Amoxapine. Se considerarmos que o humor deprimido e a ansiedade foram os itens cuja severidade era mais pronunciada no tratamento, com médias de X=2,84 e 3,00 respectivamente estes valores diminuíram para 0,79 e 0,68 ao término da terapêutica. (GRABOWSKI, 1977: 88-89). É interessante notar como o fator “tempo” aparece como justificativa em outros estudos do gênero, inclusive entre os estudos que não descartam a Psicoterapia no tratamento da Depressão. Vejamos, por exemplo, um trecho do artigo de José Caruso MADALENA sobre o emprego de Oxazepam (derivado benzodiazepínico) como coadjuvante em O arsenal terapêutico psiquiátrico foi enriquecido pela aquisição de um novo psicotrópico – o Oxazepam – Wy-3498 – do grupo dos benzodiazepínicos, miorrelaxante e tranqüilizante com um mínimo de efeitos colaterais no que diz respeito à ataxia, sedação e, principalmente, no campo da libido, onde, conforme as pesquisas norte-americanas, haveria certa estimulação. Planejamos estudar os efeitos da droga sôbre os diversos estados emocionais durante a psicoterapia. Na vigência de uma psicoterapia, as condições psíquicas do paciente podem sofrer variações com base na dinâmica da relação médico-paciente, como também de acordo com a natureza e o significado dos conflitos e frustrações conscientizados. Aparecem assim, aumento da tensão psíquica, angústia, perda de interesse vital, diminuição da capacidade de trabalho, inapetência, desinterêsse sexuakm astenia física e psíquica e insônia, dificuldades essas que, tornando improdutivo certo número de sessões (estagnação da terapia), ampliam a duração da psicoterapia. O Wy-3498 foi empregado nessas ocasiões com a finalidade de suprimir as sessões improdutivas reduzindo dessa forma o tempo da terapia psicológica. (MADALENA, 1966:86). É importante notar que na fonte acima transcrita, dentre as justificativas para que a terapia química entre como auxiliar no tratamento da terapia psicológica aparecem: a necessidade de tornar as sessões “mais produtivas”, a possibilidade de diminuir o tempo da terapia, abreviar as sessões e aplacar as dificuldades que aparecem como sintomas psíquicos de que a terapia psicológica está mexendo com o paciente. A relação entre as perturbações e o stress relacionados ao mundo moderno, a depressão e a administração de psicofármacos como forma de terapia aparece em outros artigos e até em mensagens publicitárias publicadas em revistas médicas do mesmo período. Segundo nossa interpretação, ainda muito preliminar, esses são sinais de que ao processo de desenvolvimento de uma explicação química para a depressão, correspondeu um processo de tratamento meramente físico, biológico desse fenômeno psíquico, caracterizado como um transtorno de humor e que essa forma de tratamento foi paulatinamente ampliando seu espaço de atuação em relação à Psicoterapia e ampliando seu foco de ação para uma gama muito maior de pacientes: atingindo para além das instituições psiquiátricas, os ambulatórios, os consultórios. Outro fator intrigante é que a partir da década de 1980, observamos médicos de outras especialidades – clínicos gerais e ginecologistas, por exemplo – diagnosticando casos de depressão e receitando medicamentos, especialmente, ansiolíticos. No final da década de 1980, com a descoberta dos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), que pareceram aos olhos dos pesquisadores ainda mais seguros e eficientes, por atuarem de forma ainda mais específica junto a determinados neurotransmissores e apresentarem menos efeitos colaterais que os antidepressivos mais antigos, esse quadro se tornou ainda mais complexo. Após uma verdadeira epidemia de consumo de Prozac nos Estados Unidos entre o final das décadas de 1980 e a década de 1990, assistimos no Brasil a uma grande disseminação do consumo de Fluoxetina e Sertralina. Segundo nossas conclusões parciais, esse fenômeno pode estar vinculado a vários fatores, entre eles: à disseminação dos laboratórios estrangeiros no Brasil, dentre eles aqueles que produzem psicofármacos e à vinculação entre um determinado segmento do saber psiquiátrico nacional à psiquiatria norte-americana, que, de acordo com pesquisadora Ana VENÂNCIO, vem apresentando uma tendência cada vez mais biologizante no tocante à interpretação, diagnóstico e tratamento dos chamados “males da mente”, algo que se observa sobretudo nas últimas edições do DSM: o DSM III (publicado em 1980) e o DSM IV (de 1994) tendência que parece vir ainda mais forte no DSM V, cuja publicação está prevista Há ainda o fator da facilidade de acesso aos psicofármacos em um contexto marcado pela mercantilização de praticamente tudo o que diz respeito à existência, incluindo-se aí fenômenos relacionados à saúde física e mental. Aliás, a busca de uma saúde ideal, perfeita e absoluta, pode ser interpretada, segundo Lucien SFEZ, como a forma moderna de utopia, habilmente explorada pelo marketing vinculado aos medicamentos, sobretudo àqueles relacionados à sanar, atenuar, aplacar os efeitos de uma existência conturbada, infeliz. Cogitamos, portanto, a possibilidade de que os medicamentos – dentre eles, os antidepressivos – se constituam no imaginário coletivo como uma espécie de mercadoria simbólica, para utilizar o termo de Fernando LEFÈVRE (LEFÈVRE, 1991): uma forma de alívio para tensões decorrentes nem sempre de um caso de depressão maior, mas dos desafios, angústias, frustrações e perdas inerentes à dinâmica própria da existência cotidiana em tempos marcados pela aceleração tecnológica e pelo acúmulo de funções e informações nos mais variados níveis. No outro lado desse processo há que se considerar, portanto, o aumento da demanda por medicamentos antidepressivos e ansiolíticos, uma tendência mundial que se Procuramos entender esse estado de coisas sob uma perspectiva mais ampla, filosófica: a perspectiva da instituição daquilo que o filósofo Michel FOUCAULT definiu como Biopolítica, uma das fases do Biopoder. A era do biopoder, de acordo com FOUCAULT, pode ser dividida em duas fases. A primeira localizada entre os séculos XVII e primeira metade do século XVIII, caracterizada pelo desenvolvimento do corpo-máquina; e a segunda, que se desenvolveu a partir da segunda metade do século XVIII, e que tinha como meta o corpo-espécie. À busca pela instituição do corpo-máquina se relaciona o propósito da integração do corpo humano – máquina orgânica – a controles eficazes, direcionados à finalidades econômicas.Já o corpo-espécie manifesta o ideal do corpo transpassado pela mecânica do ser vivo, o corpo entendido como suportes de processos biológicos, sobre os quais passam a incidir os mecanismos de saber-poder. À implementação de mecanismos de saber-poder dirigidos ao corpo-máquina se vinculam dispositivos de vigilância e disciplinarização. No contexto de uma biopolítica, o controle se destina às populações – visando mapear, conduzir fenômenos como nascimento, reprodução, A questão teórica fundamental consiste, portanto, em indagar se o discurso que funda a psicofarmacologia e defende a administração de substâncias químicas que agem e alteram o funcionamento de determinados neurotransmissores, como forma de tratar a depressão, manifesta uma estratégia biopolítica, ou seja, uma forma de controle operacionalizada por um saber-poder específico direcionada aos corpos dos indivíduos considerados enquanto espécie e relacionada à redução da vida ao seu aspecto puramente biológico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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