www.psicologia.com.pt Document o produzido em 11-01-2009 O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E O PROCESSO DE DESMEDICALIZAÇÃO: PRÁTICAS DE ACOLHIMENTO PSICOLÓGICO A PACIENTES PSICÓTICOS EM TRATAMENTO Giane Alves de Melo Assis Cunha Contactos:
Este artigo convida o leitor a uma reflexão, a respeito da desmedicalização de pacientes
psicóticos em tratamento psiquiátrico em uma ONG (Organização Não Governamental) na
cidade de Belo Horizonte. Questiona acerca do que se deve levar mais em conta em uma
discussão de casos clínicos: o diagnóstico diferencial ou a gradual desmedicalização dos
pacientes, sendo auxiliada ou até mesmo substituída pela psicoterapia. Baseado em textos
científicos e respaldado pelas Teorias Psicanalítica e Existencial Humanista, este artigo foi
construído para gerar provocações e transformações no âmbito da Psiquiatria, da Psicologia, da
Psicopatologia e da saúde mental, interdisciplinarmente.
Palavras-chave: Psicóticos, medicação, diagnóstico diferencial, acolhimento, tratamento
“. ajudar alguém a se ver, a se conhecer, a tomar posse de si mesmo é algo que sem uma profunda humildade dificilmente poderá acontecer”. (Ribeiro, 1986)
INTRODUÇÃO
As questões mais instigantes e desafiadoras encontradas na dimensão prática do estágio VI,
no 6º período de Psicologia na PUC MG – unidade São Gabriel, foram com relação ao
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diagnóstico diferencial e à desmedicalização. Na prática, especificamente durante a discussão dos
casos clínicos, a preocupação com a gradual desmedicalização do acolhido em tratamento na
Laço1, sendo auxiliada ou até mesmo substituída pela escuta clínica, deveria ser mais importante
que o diagnóstico diferencial em si, por se tratar de estágio em Psicologia e não em Psiquiatria. É
indiscutível a importância de se diagnosticar a patologia para uma condução eficaz no tratamento
dos pacientes em saúde mental, além de agregar experiências na bagagem acadêmica. Porém, é
dada muita ênfase ao diagnóstico e pouco se fala em desmedicalizar.
É iminente que a maioria dos pacientes psiquiátricos compareçam à Laço com o intuito de
obter medicação, e saem de lá, digamos que “vitoriosos”, pois apresentam a queixa e recebem a
“resposta-remédio”, seja ela uma receita ou a remarcação de uma próxima consulta, num circuito
ininterrupto de queixa - saber médico - solução. Vejo na medicação um eficaz recurso que
contribui para a estabilização dos pacientes, porém aos pacientes que vão somente com o intuito
de adquirir o medicamento, os vejo como “derrotados”, diante da dependência química. Em
contrapartida, é gratificante poder acompanhar o processo evolutivo de um acolhido psicótico,
por exemplo, outrora totalmente desinvestido, agora criando laços e fazendo amigos através das
oficinas, num avanço conquistado através da interação social e, sem levar em conta neste
momento, o auxílio do componente fármaco.
Conhecendo a Laço
A Laço – Associação de Apoio Social é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 2002,
que há mais de oito anos atende a população do Aglomerado da Serra, um dos maiores bolsões de
Conduzida pela psiquiatra Inês Julião, a Instituição tem como Principal objetivo deslocar
a demanda assistencialista para um tipo de trabalho co-responsável. Essa ONG, em harmonia
com a filosofia da Reforma Psiquiátrica busca substituir o tratamento convencional - centrado no
uso de medicamentos - se propondo a oferecer aos seus usuários, oportunidades de formação, de
A Laço contribui para a construção do inter-relacionamento das pessoas, permitindo assim
a inclusão social a partir de suas produções, buscando na potencialidade de cada um, a resposta
para o próprio destino. Para tanto, a Laço oferece as seguintes atividades:
Grupo História em Movimento - apresentação de estórias, músicas, e teatro.
1 Laço – Associação de Apoio Social é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 2002, que há mais de oito anos atende a população do Aglomerado da Serra, um dos maiores bolsões de pobreza da capital mineira.
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Atendimento psiquiátrico (Drª Inês e Dr. Eduardo);
Atendimento psicológico e acolhimento (estagiários de Psicologia);
Acompanhamento dos estagiários de serviço social (Mariângela); e
Oficinas de rádio, jardinagem, Informática e bordado.
O Acolhimento
O estagiário deverá fazer o acolhimento tendo em vista o formulário proposto pela
Cada estagiário atenderá inicialmente um paciente, podendo, eventualmente, atender
mais, de acordo com sua disponibilidade;
Após as entrevistas, o estagiário deverá entregar uma via dos relatórios para
arquivamento na Laço. A outra via deve ser digitada e re-encaminhada por e-mail ao
Semanalmente, no dia das entrevistas, haverá uma reunião clínica com participação dos
estagiários para discussão e esclarecimento de dúvidas;
Ao término do semestre, o estagiário apresentará um trabalho escrito a respeito de um
caso clinico, a partir do qual ele conseguiu formular alguma questão para ser elaborada.
Esta apresentação poderá conter: comentários e impressões sobre o acolhimento,
comentário sobre os tipos de demanda apresentados, dificuldades encontradas etc.;
Este atendimento deverá ser supervisionado por um profissional experiente.
O Diagnóstico Diferencial
O conceito dicionarizado da palavra diagnóstico é: capaz de discernir, conhecimento ou determinação de uma doença pela observação dos sintomas, conjunto dos sintomas que servem de base a essa determinação. O diagnóstico diferencial é um dos recursos iniciais que lançamos
mão no tratamento de patologias mentais, pois, como diz o senso comum: fica mais fácil vencer a
batalha quando o inimigo é conhecido, ou seja, de posse das informações necessárias a respeito
de que doença se trata, é possível prognosticar um tratamento eficaz. O diagnóstico diferencial
nos permite identificar e classificar uma doença numa gama de possibilidades.
Segundo o Instituto de Psiquiatria do Rio de Janeiro (IPRJ), na Psiquiatria mais restrita ao
paradigma médico, o diagnóstico é um ato de observar corretamente um sinal e, a partir do saber
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do médico, atribuir a este sinal seu verdadeiro significado, disponível na nosografia. Nesse
paradigma, o sintoma é como um significante à espera do seu verdadeiro significado. Já no
trabalho de recepção apresentado nos Cadernos da IPUB, Vol. VI, nº. 17, aposta-se que o
sintoma tem um sentido ligado à experiência do sujeito. O sintoma não encontra sua verdade na
nosografia, mas na relação particular do sujeito com ele. Só por isso se pode dizer que o sintoma
não é assunto estritamente médico e pode-se falar em desmedicalizar.
Galli (2008), diz que em qualquer diagnóstico há sempre uma visão do mundo antes do
mundo, uma teoria antes de uma pessoa, um saber antes de um acontecer. Importante, então,
enfatizar que o que deve ser identificado e classificado é a patologia e não o portador do
sofrimento mental, pois cada ser humano é único. A mesma doença pode e manifesta-se de
formas diversas, pois cada paciente tem sua história peculiar. Ao invés de classificarmos o
paciente num quadro de doenças psíquicas, devemos identificar e analisar as contingências que
atuam nesta pessoa, produzindo tal sofrimento.
Como explica Angerami (1984) apud Tenório, a pessoa doente é antes de tudo uma
pessoa que sofre, que precisa em primeiro lugar ser compreendida a partir de seus sentimentos,
sensações, emoções, enfim, de tudo que por ela é vivenciado. A pessoa, no processo diagnóstico,
deve ser apreendida como sendo um fenômeno único e, como tal, respeitada em sua totalidade;
não deve, portanto, ser avaliada segundo normas e padrões de comportamento preestabelecidos,
numa total revelia a sua própria existência. Seu nível de crescimento ou de maturidade deve ser
dimensionado por meio dos projetos de vida por ela própria idealizados e de acordo com seu
O Existencialismo, em sua exuberância, mostra que a existência é um contínuo vir a ser,
um sempre ainda não, com a possibilidade de um poder ser. Desse modo, é totalmente
inaceitável a rotulação do ser humano, aprisionando-o dentro de determinadas categorias
diagnósticas. A adequada descrição fenomenológica do mundo particular, singular e concreto do
sujeito e de sua situação atual tem de apoiar-se numa aproximação que procure apreendê-la em
Ao psicoterapeuta cabe ter conhecimento da existência do paciente ao longo de sua história
de vida, acompanhar as relações que ele estabelece com e em seu mundo, para então poder inferir
“falamos eloqüentemente do mundo em que estamos, mas não sabemos falar do mundo que somos, de
nós mesmos, dos nossos sonhos, dos nossos projetos mais íntimos. o ser moderno é prolixo para
comentar o mundo em que está, mas emudece diante do mundo que é”. (Cury, 2006)
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Esta reflexão de Augusto Cury2 ilustra bem o que muitas vezes acontece na clínica. O
paciente diante de seu sofrimento, não consegue ou se recusa a falar do mundo que é, ou seja, de
seus sentimentos, seus sonhos, projetos futuros etc. sabe-se que é característico, e até mesmo um
sinal psicótico, a omissão de informações que remetem ao foco do sofrimento do sujeito. Alguns
pacientes dizem não se lembrarem de fatos relevantes sobre sua infância, convívio com os pais e
demais familiares, histórias amorosas, relações de amizade e outros assuntos que envolvem seu
mundo circundante, até mesmo como uma forma de defesa. Tais informações poderiam auxiliar
no diagnóstico e a omissão delas sugere a desconfiança, por parte do terapeuta, de que pode
haver algo importante ocultado na omissão.
De acordo com os conteúdos discutidos e aprendidos na supervisão e durante a prática do
Estágio VI, o sofrimento é uma forma de simbolizar e as alucinações e delírios podem surgir
como dispositivos de defesa do sujeito, diante do sofrimento.
Em pessoas que possuem uma estrutura psicótica, qualquer fato pode desencadear uma
crise, como em um caso apresentado na Laço, em que uma paciente presenciou a um assassinato
e alucinou que a vitima era seu filho. Ela tentou intervir e quase foi violentada pelo agressor. Este
fato fez com que a paciente surtasse e precisasse de cuidados psiquiátricos. Em casos como este,
o manejo terapêutico tem função estabilizante, mas faz-se necessário que o médico esteja
inteirado da história do paciente para não errar no diagnóstico, segundo a psiquiatra responsável
pela condução das reuniões após os atendimentos médicos e psicológicos na Laço.
Segundo Tenório (2004), O conceito de homem dentro do enfoque fenomenológico-
existencial da psicopatologia é como um ser pluridimensional, livre, inserido em um mundo
dotado de sentido particular, aberto às suas possibilidades, consciente de sua finitude e de sua
responsabilidade perante suas escolhas, capaz de inventar e cuidar de sua própria existência
mediante a práxis. Partindo desta visão de homem, a autora afirma que a psicopatologia vai se
manifestar por meio de uma vivência de sofrimento onde a pessoa se sente vítima e presa a um
destino sombrio e a uma existência destituída de realizações gratificantes e prazerosas. Sem
liberdade de escolha, a pessoa vive a sensação de estar encurralada pelas circunstâncias da vida,
sentindo-se impotente para modificá-las, submetendo-se a elas, num sacrifício alienante e
inevitável. Nesse processo de sofrimento, a pessoa perde o contato com as possibilidades
existentes no campo organismo/meio, percebendo a si mesma e ao outro de forma distorcida.
Nas alucinações e nos delírios há muita criatividade por parte do psicótico, como diria
Salvador Dali: “A única diferença entre um louco e eu, é que eu não sou louco”. Um traço
característico da loucura é a explicitação da criatividade e isso é explorado positivamente nas
oficinas da Laço. Os pacientes interessados extravasam sua criatividade através do artesanato, da
pintura, da música e de outras atividades desenvolvidas nesta ONG.
2 Médico-psiquiatra, pesquisador da mente humana e autor de vários livros. Criador da Teoria da Inteligência Multifocal.
www.psicologia.com.pt Document o produzido em 11-01-2009 A Desmedicalização
“para nós cura não é solucionar problemas. é acreditar em nós mesmos, no outro e no
A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer "arte de curar a alma", porém, quando o
assunto é a cura psíquica, pode-se até mesmo pensar em uma utopia romântica ou em um
objetivo distante, mas devemos acreditar e buscar. Pesquisando na literatura da saúde mental,
pouco se encontra a respeito de cura. Falam-se em ter cautela para falar de cura, pois é um tema
problemático, outros autores dizem que é preciso saber se a pessoa está doente ou é doente, para
depois se falar em cura. Ainda outros usam termos como reorganização de elementos culturais, sociais e psicológicos, mas a expressão significativa mais próxima que se acha é tratamento bem-
Parece que a meta principal do tratamento em saúde mental é o alívio do sofrimento e o
bem-estar psíquico do paciente, mas porque não acreditar na cura?
Segundo Fernandes (2000), um nível além da discussão sobre Foucault e em conjunto com
os antipsiquiatras vem a possibilidade de cura da loucura. Quando se acredita que a loucura é um
sintoma de uma alteração biológica inerente à pessoa, a cura é uma impossibilidade virtual.
Concordamos que uma parte das pessoas com distúrbios psíquicos realmente sofrem uma
alteração do Sistema Nervoso, quando esta é presente ou latente desde o nascimento. Nestes
casos poderíamos falar de cura, pois o cérebro pode ser desenvolvido e modelado pela
aprendizagem (plasticidade cerebral). Talvez, então, não seriam tão inacessíveis assim, a
psicanálise e a (re)-construção psíquica de si mesmos.
O foco desde estudo é especificamente o diagnóstico diferencial e a desmedicalização de
pacientes psicóticos em tratamento. De acordo com a francesa Elisabeth Rudinesco, membro da
Sociedade Internacional de História da Psiquiatria e psicanálise, os psicotrópicos suprimem por
algum tempo os sintomas das doenças, mas estes tendem a se manifestar novamente. Já está
provado, segundo ela, que, principalmente em casos de obsessão, mania e fobia, os remédios não
resolvem. A própria busca da espiritualidade serve como psicoterapia.
Criticar a medicação parece muito fácil, propor a desmedicalização é, sem dúvida,
polêmico. Sugiro, portanto, subjetivar, ou seja, tratar não apenas da doença, mas cuidar, acolher a
quem sofre; humanizar o atendimento, acompanhar o contexto em que o paciente está inserido e
buscar, de alguma forma, intervir, talvez na dimensão familiar ou laboral, para que haja uma
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melhora significativa do paciente. Podemos propor mudanças no funcionamento institucional e
principalmente das concepções clínicas, afirmando uma clínica que visa o sujeito.
A Pedra da Loucura X A Pedra da Cura
Na Idade Média acreditava-se que existia a “pedra da loucura”, que ficava alojada no
cérebro do desarrazoado. E através de técnicas bárbaras - como introdução de pinças enormes no
ouvido do paciente, furos no crânio com pregos (sem esterilizar e sem anestesia, o que naquela
época nem existia), ingestão de secreções e excremento humanos, camas que chacoalhavam sem
parar, dentre outras - tentavam-se extraí-la para libertar o doente daquele mal.
O tratamento hospitalocêntrico na Idade Média e na Modernidade era muito desumano.
Muitos dos pacientes eram abandonados sem as mínimas condições de sobrevivência, em
verdadeiros “depósitos de excluídos”. A religião e os filósofos, e posteriormente a medicina é
que detinham o poder sobre o controle da loucura, até que um médico italiano (Franco Basaglia)
juntamente com outros trabalhadores em saúde mental deu início à Reforma Psiquiátrica, que
objetiva a desospitalização, com a implementação de serviços substitutivos, para uma sociedade
sem manicômios. Entretanto, isso é um longo assunto a ser discutido em uma próxima
oportunidade, para não sairmos do nosso foco.
Atualmente, as práticas de extração da suposta pedra da loucura não subsistem, mas com o
avanço farmacológico, existe, porém, a prática de inserção do que poderíamos chamar de “pedra
da cura”, metaforizada no Haldol, na Amitriptilina, no Akineton, no Biperideno e em tantos
outros. Com o manejo terapêutico, os pacientes são submetidos a um arsenal medicamentoso, que
lhes embotam o humor para mantê-los estabilizados e sem crises.
Na Conferência “Uma Subjetividade Sem Sujeito”, em Belo Horizonte, o psicanalista
lacaniano, Erick Porge afirmou que muitas doenças, como o exemplo citado por ele na palestra,
do TDAH (Transtorno do Déficit e Atenção por Hiperatividade) é uma invenção da indústria
farmacêutica, com o intuito meramente comercial. Ele acrescentou em tom sarcástico que o nome
do medicamento utilizado no tratamento do TDAH é Ritalina, em homenagem ao nome (Rita) da
esposa do dono do laboratório farmacêutico. - “Romântico, não!?”, disse ele.
Práticas de Acolhimento Psicológico na Laço
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“quanto aos valores do terapeuta, a neutralidade não deixa de ser um mito; a postura
psicoterapêutica não anula sentimentos, vontades, mas exige que o mundo interior do
psicoterapeuta não influencie ou oriente o mundo do cliente. Vem daí a importância de o
terapeuta ter passado pelo seu próprio processo para estar com o cliente em uma relação
fluida, espontânea, sem contaminação pela sua realidade interna” (Faleiros, 2004)
O acolhimento psicológico como parte das atividades do Estágio VI é realizado todas as
terças-feiras, dia em que a maioria dos pacientes da Laço são psicóticos estabilizados.
Inicialmente, a equipe de estagiários é apresentada aos pacientes e parceiros da instituição,
presentes na rádio oficina e logo em seguida os psicólogos em formação são designados a acolher
aos pacientes que aguardam a consulta médica. O local onde acontece o acolhimento é ao ar
livre, em meio a árvores, flores e animais silvestres. Um ambiente tranqüilo e relaxante, que
facilita o rapport e propicia a relação transferencial entre as partes envolvidas no acolhimento.
Segundo Calligaris (1989), é na transferência que o discurso do paciente organiza, a partir
do lugar no qual o paciente coloca o “terapeuta” é que um diagnóstico é possível, é que uma
Alguns pacientes comparecem acompanhados de um responsável, que na maioria das vezes,
colabora fornecendo informações relevantes para uma boa elaboração do caso clínico.
O formulário do anexo 1 é preenchido com o intuito de atualizar os arquivos da Laço, mas
o objetivo principal é a escuta clínica, para que o acolhido fale de sua queixa principal e exponha,
A postura dos técnicos frente aos acolhidos é de ouvintes passivos, não cabendo aconselhar,
porém argumentar e questionar acerca do sofrimento. Pequenas intervenções são efetuadas para
fazer com que o acolhido reflita, na tentativa de implicar o sujeito em seu sintoma, para quem
sabe, desmedicalizar a queixa e subjetivar a demanda.
Este trabalho tem acrescido muito na bagagem empírica dos estagiários. Através dos casos
estudados com a equipe multidisciplinar composta por psiquiatras, psicólogos, assistente social e
parceiros da instituição, aprende-se muito sobre a estrutura psicótica, as subdivisões da psicose,
os sintomas, a nomenclatura correta a ser transcrita nos relatórios, a avaliação das funções
psíquicas etc. Além do manejo no acolhimento e no tratamento humanizado, como por exemplo,
deixar o paciente falar sobre sua angústia somente se ele desejar. Pois, se insistir, pode piorar o
quadro clínico ao invés de melhorá-lo.
A clínica psicanalítica é estrutural, ou seja, fundada na transferência. Isso permite um
diagnóstico de psicose mesmo na ausência de qualquer crise, como no caso clínico de S. S. S.,
uma jovem senhora que leva uma vida aparentemente normal; trabalha, cuida dos filhos e do
esposo, mas acredita piamente ser perseguida pela vizinha (delírio persecutório). Ouvindo esta
paciente em qualquer outra situação, senão na clínica, diria que ela não tem problema psicológico
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algum, porém, a prática psicanalítica permite, em casos como este, prognosticar uma paranóia e
Outro caso interessante que não poderia ficar excluso é o de P. C. E. C., um senhor quase
idoso, que lembra muito o personagem Tom dez segundos, do filme “Como se Fosse a Primeira
Vez”, (2005). Ele mal acaba de contar uma história e recomeça novamente, seu pensamento
funciona em círculos e a todo o momento ele se esquece do que está falando. A ausência de
sustentação do discurso é um sintoma da psicose e para conduzir este paciente a um outro
assunto, é preciso intervir, fazendo perguntas sobre outros temas. Este senhor no início do
tratamento era ansioso a ponto de ferir a cabeça de tanto cutucá-la com os dedos, mas o processo
terapêutico lhe tem feito muito bem e as feridas já estão cicatrizando, porque ele tem conseguido
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a elaboração deste artigo foi necessário um trabalho investigativo prazeroso sobre
temas particularmente estimulantes. Privilegiei autores contemporâneos, sem o propósito de
desmerecer aqueles que já se foram, como, por exemplo, Freud, Lacan, Jaspers, dentre outros,
pois suas contribuições à ciência são dignas de grande mérito, mas eles já viveram seus
momentos de glória e foram imortalizados através de suas Obras. Sinceramente valorizo idéias
A pesquisa realizada ampliou o campo de visão sobre as doenças psíquicas, da
nomenclatura das patologias da mente humana e do uso correto de termos específicos das áreas
Psis, enriquecendo os conteúdos teórico e técnico. As questões principais abordadas sobre o
diagnóstico diferencial e a desmedicalização poderão servir para propor transformações e um
atendimento cada vez mais humanizado nos serviços substitutivos ao modelo hospitalar, no
funcionamento institucional e principalmente nas concepções clínicas.
As situações experimentadas na prática do Estágio VI foram marcantes e a interação com os
profissionais e colaboradores da Laço facilitou o desenvolvimento do trabalho acadêmico,
tornando-o mais aprazível. Todo conhecimento adquirido certamente nos proporciona meios para
sermos bons profissionais, confiáveis e verdadeiramente úteis.
Espero ter somado experiências ao Estágio da PUC e ter colaborado com a Laço na
execução das tarefas a mim confiadas. Almejo, destemidamente, contribuir para que a Psicologia
e a Psicopatologia busquem cada vez mais focar seu objetivo na cura e não apenas em qualidade
Acredito na funcionalidade da Reforma Psiquiátrica, espero ver e viver a vitória da Luta
Antimanicomial e enalteço a atitude de pessoas como Drª Inês e de instituições como a Laço, que
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respeitam seus pares em suas limitações e cuidam com amor desinteressado daqueles que,
embora por muitos marginalizados, são sujeitos de qualidades, necessidades e possibilidades.
www.psicologia.com.pt Document o produzido em 11-01-2009 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CALLIGARIS, Contardo. Introdução a uma Clínica Diferencial das Psicoses. Porto
CURY, Augusto Jorge. Análise da Inteligência de Cristo, vol. 1. O Mestre dos Mestres: Jesus. O maior Educador da História. Rio de Janeiro: Ed. Sextante, 2006, pág.65.
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RIBEIRO, J. P. Teorias e Técnicas Psicoterápicas. Rio de Janeiro: Vozes, 1986. In
FALEIROS, Elizabeth Amélio. Aprendendo a Ser Psicoterapeuta. Revista Psicologia Ciência e
TENÓRIO, Carlene Maria Dias. A Psicopatologia E O Diagnóstico Numa Abordagem Fenomenológica–Existencial.
Universitas Ciências da Saúde - Psicopatologia na
fenomenologia-existencial. Vol. 01 n.01 - pp. 31-44
Cadernos IPUB. A Clínica da Recepção nos Dispositivos de Saúde Mental. Vol. VI, Nº.
Dicionário eletrônico disponível em http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx,
www.psicologia.com.pt Document o produzido em 11-01-2009 Ficha de Acolhimento Prontuário: nascimento: Endereço: Telefone: Escolaridade: sócio-econômico: Responsável: Encaminhado Situação funcional (se trabalha fora ou exerce alguma atividade que gera renda; se recebe benefício do INSS): Contribui na renda familiar? Queixa principal: (o que traz o paciente à consulta) Histórico: (como e quando teve início a queixa do paciente, o que ele considera que causou o problema), Perguntar sobre tristeza, desânimo, inapetência, insônia, cuidados com o corpo (higiene), desconfiança, idéias delirantes, alucinações auditivo-verbais, alteração de memória, tentativa de suicídio, homicídio, outras doenças. História pregressa: desenvolvimento (dados importantes da infância e adolescência), convulsões, doenças físicas. Internações anteriores ao início de tratamento na Laço: Internações posteriores ao início de tratamento na Laço: História familiar: (fatores hereditários, relacionamento do paciente com familiares). História escolar: (interesse, relacionamentos, interrupções). Trabalho: (tempo de permanência no trabalho, interrupções). Vida afetivo-sexual: Interesses, atividades sociais (o que gosta de fazer): Uso de álcool e drogas: Condições de Moradia: Interesse na Laço: Medicações que faz uso: Proposta de troca com a Laço: Impressão Diagnóstica: Tratamento: Técnico:
Bupropion as the treatment of choice in depression associatedwith Parkinson’s disease and it’s various treatmentsThe Jerusalem Mental Health Center, Kfar Shaul Hospital, Hebrew University – Hadassah Medical School, Jerusalem, IsraelParkinson disease (PD) is a chronic progressive degenerative disorder that affects over 6 million peopleworldwide. It is manifested by motor and psychiatri
Le syndrome Gilles de la Tourette chez l'enfant : guide pour les professionnels en mil. Page 1 sur 5 LE SYNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE À L’ENFANCE : UN GUIDE POUR LES PROFESSIONNELS EN MILIEU SCOLAIRE Étudiante en doctorat en psychologie Université du Québec à Montréal Titre : Gilles de la Tourette’s Syndrome in Childhood : A Guide for School Professionals Auteurs : Walter, Abb