Boletim 39

PRINCÍPIOS DA ANTIBIOTICOTERAPIA EM MEDICI-
NA VETERINÁRIA
1 – INTRODUÇÃO
Os antibióticos são substâncias químicas produzidas por microorga- nismos (fungos, bactérias, actinomicetos). Essas substâncias são capazes de destruir ou impedir o crescimento dos microorganismos patogênicos.
O uso de antibióticos para o tratamento de doenças é mais antigo do que se pensa. Os chineses já conheciam, há mais de 2.500 anos, os benefícios do uso da casca de soja mofada em furúnculos, abscessos e infecções simila- res. Existem vários relatos médicos que descrevem o tratamento padrão para algumas infecções, como, por exemplo, o uso de terra e plantas, os quais provavelmente teriam a presença de microorganismos.
1. Professores do Departamento de Medicina Veterinária da UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS(UFLA) Caixa Postal 37, 37.200-000 – Lavras – MG.
Atualmente se tem conhecimento de várias drogas sintéticas que pos- suem efeito similar ao dos antibióticos. A cada dia que passa, substâncias novas, destinadas ao uso como antimicrobianos, são lançadas no mercado e, apesar do esforço que se tem feito no sentido de descrever a farmacologia dessas drogas, muitas informações não estão disponíveis. Grande parte das informações encontradas na literatura são conflitantes, mas há um consenso quando se credita a crescente necessidade do desenvolvimento de novas dro- gas à má utilização das já existentes. O mau uso, vale ressaltar, está intima- mente relacionado à falta de informação das pessoas que utilizam as substân- cias antimicrobianas na prática clínica.
Com este trabalho objetivou-se fornecer alguns subsídios para estu- dantes de graduação e para os profissionais que atuam nas diversas áreas da veterinária, bem como naquelas áreas ligadas à produção animal.
2 - CONCEITOS BÁSICOS COM RELAÇÃO AOS
ANTIMICROBIANOS
2.1. Quimioterápicos
Denominam-se quimioterápicos as drogas usadas na terapia antimi- crobiana, as quais são produzidas quimicamente em laboratórios ou extraídas de plantas. Porém, o conceito de quimioterapia é mais abrangente e se esten- de também ao tratamento de neoplasias.
As sulfonamidas, trimetoprim, ácido nalidíxico, ácido pipemídico, ni- trofuranos e amprólio são exemplos dos principais quimioterápicos usados 2.2. Antibióticos
Denominam-se antibióticos as drogas usadas para o mesmo fim dos quimioterápicos, porém, produzidas por microrganismos ou seus equivalen- tes sintéticos, que têm a capacidade de, em pequenas doses, inibir o cresci- mento ou destruir os microrganismos.
Penicilinas, cefalosporinas e tetraciclinas são exemplos dos principais antibióticos usados em medicina veterinária.
2.3 Drogas bactericidas
As drogas bactericidas são capazes de provocar a morte do agente infeccioso, independentemente do estado imunológico do organismo e, por isso, são indicadas com mais freqüência. Exemplos: 2.4 Drogas bacteriostáticas
As drogas bacteriostáticas não eliminam o agente etiológico, apenas o inibem, não permitindo a evolução do estado infeccioso. A eliminação do microrganismo depende da competência da defesa do organismo doente, devendo, portanto, estar o animal em condições imunológicas perfeitas.
• Ácido Pipemídico / Ácido Nalidíxico 2.5 Bactérias Gram positivas X Gram negativas
A denominação de Gram-negativo e Gram-positivo se deve ao tipo de coloração usada. As bactérias Gram-positivas se coram de azul-violeta pela coloração de Gram, ao passo que as bactérias Gram-negativas só se coram de rosa-avermelhado pela fucsina.
As bactérias Gram-positivas possuem maior quantidade de peptidio- glicano, um composto polimérico que forma uma estrutura rígida ao redor da membrana citoplasmática. Apesar disso, a parede das células Gram-negativas é quimicamente mais complexa. As paredes dos organismos Gram-positivos possuem menor quantidade de aminoácido.
O conteúdo lipídico das bactérias Gram-negativas é consideravel- mente maior que o dos organismos Gram-positivos. Um constituinte da parede celular da bactéria Gram-negativa, o lipopolissacarídeo, determina a antigenicidade, a toxicidade e a patogenicidade desses microrganismos.
3 - CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS SEGUNDO OS SEUS
MECANISMOS DE AÇÃO
3.1 Drogas que atuam inibindo a síntese da parede microbiana
As bactérias, leveduras e plantas apresentam um envoltório externo à membrana citoplasmática denominado parede celular. Bactérias desprovidas de parede celular sofrem lise osmótica, portando, é vital a presença dessa estrutura. As drogas que impedem a formação da parede microbiana causam 3.2 Drogas que Interferem nas Atividades Vitais dos Microrga-
As drogas que atuam na membrana citoplasmática interferem na ati- vidade microbiana. A membrana citoplasmática possui uma permeabilidade seletiva; caso haja alterações físico-químicas nessa membrana, a saída e a entrada de elementos vitais à célula estarão comprometidas, podendo levar à morte bacteriana. Exemplos dessas drogas: 3.3 Drogas que interferem na síntese de proteína.
As drogas que interferem na síntese de proteínas o fazem de forma reversível ou irreversível, conforme se observa abaixo: A) Atuação irreversível: As drogas que atuam irreversivelmente pos- suem efeito bactericida, pois fazem com que a codificação da proteína acon- teça de maneira anormal, formando-se proteínas anômalas. Exemplos de al- B) Atuação reversível: As drogas que atuam dessa forma interferem em uma das fases da síntese protéica, secundariamente às atividades de cres- cimento microbiano, como a formação de peptídeos com atividade enzimáti- ca. Possuem efeito bacteriostático. Exemplos de drogas que atuam dessa c) Macrolideos (eritromicina, espiramicina e etc.) 3.4 Drogas que Interferem na Duplicação do Cromossomo
O DNA cromossômico é formado por duas cadeias de nucleotídeos.
Na divisão celular, as cadeias separam-se e uma nova cadeia complementar e formada a cada uma das antigas. Existem várias drogas que impedem a du- plicação cromossômica, porém, somente algumas não apresentam toxicidade à célula animal. As mais usadas comercialmente são: 4 - PRINCÍPIOS A SEREM SEGUIDOS PARA O USO DE
ANTIBIÓTICOS
O uso clínico de antibióticos exige o conhecimento de uma série de noções básicas e princípios gerais que permitam o seu emprego racional e a obtenção dos resultados satisfatórios. Alguns desses princípios são: c) Conhecimento do espectro antimicrobiano e mecanismo de ação.
d) Posologia adequada às necessidades.
e) Controle bacteriológico rígido.
f) Associação antibiótica somente quando necessária.
h) Tratamento local somente com antibióticos tópicos.
i) Análise crítica dos critérios de seleção.
5 - CRITÉRIOS NA ESCOLHA DO ANTIBIÓTICO
Existem vários tipos de antibióticos, cada um com uma atividade es- pecífica. Para que a droga usada tenha a eficácia que se pretende, é necessá- rio conhecimento de alguns critérios. Os principais pontos a serem seguidos a) Conhecimento do agente etiológico.
b) Boa tolerância pelo animal, não possuindo efeito imunodepressor.
c) Ação e efeito antimicrobiano seletivo.
d) Manutenção dos seus efeitos bactericidas, sem chances para a e) Amplo espectro de ação do antibiótico.
f) Sensibilidade do microrganismo à droga. (Pode-se usar o Antibio- grama para se obter essa informação).
g) Atoxidade para o organismo animal.
h) Ação bactericida preferencialmente.
i) Alta concentração da droga no local da infecção.
j) Ser excretado ou metabolizado regularmente pelo organismo.
l) Baixo custo de produção e facilidade de aquisição.
6 - CAUSAS DE INSUCESSO TERAPÊUTICO
Quando o tratamento não é bem sucedido, as possíveis causas que a) Indicação incorreta - quando o antibiótico não possui ação efetiva b) Antibiótico ineficaz - em certos casos, parece que os microrganis- mos da flora normal inibem a ação do antibiótico, não permitindo que esse atue de maneira específica sobre o microrganismo responsável pela infecção.
c) Dosagem imprópria o que pode Induzir à resistência bacteriana.
d) Imunossupressão do organismo doente - o antibiótico e o hospe- deiro agem em resposta conjunta contra o patógeno.
f) Presença de corpos estranhos, como pontos de sutura, fragmentos ósseos e outros objetos sujeitos a infecções localizadas. Esses corpos estra- nhos podem predispor a focos de bacteremia, tornando o tratamento mais g) Nas infecções circunscritas como abcessos pulmonares, abcessos intra-abdominais e piometra, só se chega ao sucesso terapêutico após a dre- h) Quando o pH do local não é adequado para a ação do antibiótico.
Em locais onde há processos inflamatórios e nas infecções urinárias, em que, dependendo da espécie animal, o pH prejudica a ação dos antibióticos. Mui- tos antibióticos funcionam melhor em meio alcalino ou neutro, o que corres- ponde aos valores de pH urinário dos herbívoros, ao passo que os carnívo- ros possuem um pH urinário ácido, atuando de forma contrária.
7 - DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS ANTIMICROBIANOS
7.1 Antibióticos - Beta Lactâmicos
A) Penicilina: Descoberta por Fleming em 1929, foi o primeiro anti- biótico a ser usado. A penicilina natural é obtida por fermentação do fungo Penicilium e até hoje permanece como um excelente antimicrobiano frente a inúmeras infecções. A partir do momento em que se descobriu o seu núcleo central, uma série de derivados foi obtida em laboratório, constituindo o gru- po das penicilinas semi-sintéticas.
As penicilinas interferem na síntese da parede celular. A não- formação da parede celular implica na perda da integridade celular e a sua conseqüente ruptura leva a bactéria à morte. Efeito tipicamente bactericida.
Os microrganismos Gram-positivos são mais sensíveis a esse grupo de anti- Os sais de penicilina, como a Penicilina G procaínica, possuem absor- ção e excreção lenta, assegurando 12 ou 24h, pelo menos, de níveis plasmá- ticos desejáveis. Raramente o antibiótico atinge o cérebro. A excreção é essencialmente renal, mas pode-se encontrar pequena quantidade na bile e De acordo com seu mecanismo de ação, a sua toxicidade é baixa para as células animais. Reações alérgicas e anafiláticas podem surgir em cães e cavalos principalmente, sendo raras em ruminantes. Pela figura 1 pode-se ver a estrutura básica das penicilinas.
FIGURA 1 – Estrutura quínica primária da penicilina
• PENICILINA G CRISTALINA - Curta duração O seu uso se restringe a doenças graves, que exigem doses altas de penicilina e uso contínuo, como no controle das mastites bovinas estafilocó- cicas e estreptocócicas (não produtoras de penicilinase), cistites e pielonefri- tes causadas pelo Corynebacterium renale, etc.
A via intramuscular para a penicilina G cristalina não é muito acon- selhável por ser fortemente dolorosa.
É indicada no tratamento de infecções de moderada ou de pequena gravidade, causadas por germes sensíveis à penicilina como, actinomicose, listeriose, pneumonias, faringites, difteria, otites, abcessos e na profilaxia do É de uso exclusivamente intramuscular, sendo lentamente absorvida e só atinge níveis séricos eficientes oito horas após a aplicação e mantendo- se até por cerca de 7 a 10 dias em baixos níveis. Indicada nas faringites, broncopneumonias, pneumonias e como complementação terapêutica do tratamento de certas doenças, em que se empregam penicilinas de absorção Produzidas em laboratório pela adição de diferentes radicais à estru- tura original das penicilinas naturais. São divididas em três grupos: penicili- nas semi-sintéticas antiestafilocócicas, as de amplo espectro e as de curto São resistentes às betalactamases (penicilinases), sendo utilizadas no tratamento de infecções por estafilococos produtores de penicilinase; por- tanto, são resistentes à penicilina. Exemplos: Distribuem-se bem por todo organismo, inclusive no líquor, placenta e feto. Sua eliminação se dá por via urinária em níveis elevados. É inativa para estafilococos produtores de betalactamase. Exemplos: Quimicamente, a penicilina V é a fenoximetil-penicilina, e a principal diferença em relação à penicilina G é de natureza farmacocinética, pois é resistente ao pH estomacal, podendo ser administrada por via oral. É ativa sobre microrganismos Gram positivos, cocos Gram negativos e espiroquetas.
Diferentemente da penicilina G, não tem ação sobre bacilos Gram negativos, com exceção de cepas do Haemophilus. É inativada pela enzima betalacta- 7.2 CEFALOSPORINAS
As cefalosporinas são antibióticos enquadrados dentro do conceito de drogas betalactâmicas, pois possuem similaridade estrutural com as penicili- nas. A cefalosporina C é extraída de um fungo do gênero Cephalosporium e foi, a partir dela, que se deu origem aos vários outros antibióticos que per- tencem a esse grupo. Elas foram introduzidas na década de 1950, pelo fato de as penicilinas não serem mais efetivas contra estafilococos. São classifica- das em celalosporinas de 1a, 2a e 3a geração. Pela Figura 2 pode-se verificar a estrutura química das cefalosporinas.
FIGURA 2 – Estrutura química primária das cefalosporinas
• CEFALOSPORINAS DE PRIMEIRA GERAÇÃO: Apresentam estreito espectro de ação antimicrobiana, atuam sobre bactérias Gram-positivas e são ativas contra estafilococcus produtores de penicilinase. Na Figura 3 pode-se ver os radicais substituintes para a forma- ção da cefalotina. São exemplos de cefalosporinas de primeira geração: FIGURA 3 – Radicais para a formação da cefalotina
São um pouco menos ativas do que as de primeira geração contra bactérias Gram-positivas; porém, têm maior atividade contra bactérias enté- Possuem o maior espectro de ação contra bactérias Gram-negativas, inclusive apresentando certa estabilidade na presença de penicilinase, porém são menos ativas contra bactérias Gram-positivas. Exemplos: A vantagem das cefalosporinas em medicina veterinária é sua ativida- de bactericida contra cocos Gram-positivos e bacilos Gram-negativos, que são clinicamente importantes. Essas drogas também estão livres de proprie- dades tóxicas, porém, o custo limita sua ampla utilização, principalmente Apenas quatro cefalosporinas são eficientemente absorvidas após administração oral: cefalexina, cefadroxil, cefradina e cefaclor. A administra- ção parenteral é pelas vias intramuscular ou endovenosa, as quais são prefe- ridas porque minimizam a freqüência de dor e irritação no local da injeção.
As cefalosporinas são primariamente excretadas pelo rim e, como a maioria das drogas, no caso de insuficiência renal, a dose deve ser reduzida.
Uma exceção é a cefoperazona, a qual é primariamente eliminada na bile.
7.3 SULFONAMIDAS
São agentes antimicrobianos, bacteriostáticos e em altas concentra- ções possuem efeito bactericida, mas nessas condições, podem causar graves reações adversas ao hospedeiro. São muito difundidas na medicina veteriná- ria. Inibem o crescimento bacteriano, interferindo na utilização do ácido p- aminobenzóico (PABA) por parte dos microrganismos.
De uma maneira geral, apresentam grande espectro de ação, atingin- do bactérias Gram-positivas e negativas, mas existem microrganismos que não requerem ácido fólico para o crescimento ou podem usar o ácido fólico pré-formado, e esses são, portanto, resistentes às sulfonamidas.
As sulfonamidas são classificadas de acordo com suas características São sulfas que quando administradas irão agir no organismo animal de uma maneira generalizada e não local. São divididas em: A) Sulfas de ação curta: sulfisoxazol, sulfametizol, sulfaclorpiridazi- na, sulfadiazina, sulfacetamida, sulfamerazina, sulfametazina.
B) Sulfas de ação intermediária: sulfametoxazol, sulfafenazol.
C) Sulfas de ação Longa: sulfametoxipiridazina, sulfadimetoxina, sulfadoxina, sulfametildiazina, sulfametoxipirazina.
• SULFONAMIDAS PARA USO ORAL E AÇÃO INTESTINAL As que drogas citadas a seguir atuam n aluz do intestino quando ad- ministradas por via oral, sendo elas: sulfaguanidina, ftalilsulfatiazol, succi- nilsulfatiazol, ftalilsulfacetamida, salicilazosulfapiridina, nitrosulfadiazol.
O Sulfisoxazol e a sulfacetamida são destinadas ao uso tópico.
Com exceção daquelas sulfonamidas preparadas para atuarem local- mente, como as sulfas de ação entérica, que não são absorvidas, a adminis- tração oral das sulfas resulta em absorção, podendo a taxa de absorção variar enormemente entre elas, dependendo do tipo de sulfa utilizada. Outro fator fundamental a se considerar, com relação à taxa de absorção, é a espécie animal. Assim, as aves são os animais que mais rapidamente absorvem esse quimioterápico, seguindo-se os cães e gatos. Os eqüinos e suínos colocam- se numa posição intermediária e os ruminantes apresentam lenta absorção. A privação de água e a estase ruminal diminuem a absorção, enquanto o exer- A absorção das sulfas em locais como o útero, glândula mamária e pele lesada, de uma maneira geral, é pequena, entretanto, pode ser suficiente para produzir toxicidade em animais sensíveis.
As sulfas distribuem-se por todos os tecidos, atravessando inclusive a barreira hematoencefálica e placentária.
Após a absorção, distribuição e, em alguns casos, transformação me- tabólica, as sulfonamidas são eliminadas na urina, fezes, bile, suor e lágrimas.
Entretanto, o rim está primariamente envolvido na excreção dessas drogas.
A cristalização das sulfonamidas nos túbulos renais pode ocorrer quando há concentração da droga dentro dos líquidos tubulares e o pH da urina diminuir. Essa cristalúria, precipitação de metabólitos acetilados na urina, pode ser evitada mediante a ingestão de quantidade abundante de água e manutenção da urina alcalina. Existe maior probabilidade de ocorrer em carnívoros, em razão da natureza ácida da urina. O uso de preparações hidrossolúveis também diminui sua incidência.
7.4 TRIMETOPRIM
A descoberta dessa substância proporcionou a possibilidade de cura para diversas infecções, pois, em associação com a sulfa, sua ação torna-se O trimetoprim atua inibindo uma enzima responsável pela obtenção do ácido tetraidofólico. Possui uma grande afinidade somente com enzima bacteriana, sendo, assim, um quimioterápico bastante seguro.
Há um vantajoso efeito sinérgico na associação de sulfa com trimeto- prim, pois esses medicamentos atuam em etapas diferentes na formação do ácido tetraidofólico. Outra vantagem dessa associação é a menor incidência de resistência bacteriana; além disso, ao contrário do uso isolado de qualquer um desses quimioterápicos, a associação de sulfa e trimetoprim possui efeito bactericida de amplo espectro. A mais comumente encontrada é trimetoprim Nas infecções urinárias, não há nenhum sinergismo entre as duas drogas, devendo-se administrar trimetoprim isolado.
O trimetoprim sofre absorção total no trato gastrointestinal, distri- bui-se amplamente pelos tecidos e líquidos corporais (atinge altas concentra- ções nos pulmões, nos rins e no líquido cefaloraquidiano). Como o trimeto- prim é uma base fraca, sua eliminação pelos rins aumenta com a dimuição do 7.5 TETRACICLINAS
São classificadas como antibiótico de largo espectro de ação antimi- crobiana. Atuam sobre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, Clamí- dias, Riquétsias e até sobre alguns protozoários.
As tetraciclinas inibem a síntese protéica dos microrganismos sensíveis, ligando-se aos ribossomas e impedindo a fixação do RNA transportador.
A grande maioria das tetraciclinas é absorvida por via oral; porém, muitos fatores interferem nessa via de administração, comprometendo a bio- disponibilidade do antibiótico. O local onde ocorre a absorção é o intestino delgado, e uma pequena quantidade pode ser captada pela mucosa estoma- cal de monogástricos. A administração oral com alimentos derivados do leite, preparações vitamínicas, antiácidos e catárticos diminui a absorção da maio- ria das tetraciclinas, em virtude da formação de sais insolúveis.
Após a absorção, as tetraciclinas distribuem-se amplamente pelo or- ganismo, atingindo concentrações significativas na pele, pulmão, rins, músculos, fígado, globo ocular e líquidos orgânicos, podendo difundir-se pela placenta. A barreira hematoencefálica não é atravessada de maneira significativa.
A administração intramuscular é irritante, não sendo adequada, em- bora o cloridrato de oxitetraciclina seja indicado para a aplicação parenteral.
Todas as tetraciclinas, exceto a minociclina e a doxiciclina, são ex- cretadas na sua forma ativa pela urina, ou em menor proporção pela bile.
As tetraciclinas causam irritação tecidual. Esse efeito pode provocar manifestações gastrointestinais (náuseas, vômitos e diarréias), quando admi- nistrados por via oral. Em razão da ligação com o cálcio, podem provocar arritmias cardíacas e deposição em tecido ósseo e dentes; por isso, evita-se a administração de tetraciclinas em animais jovens ou em fase de crescimento, e em fêmeas gestantes. A figura 4 mostra a estrutura química básica das te- FIGURA 4 – Estrutura química principal das Tetraciclinas
6.6 CLORANFENICOL
É considerado um antibiótico de largo espectro de ação, atuando so- bre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, riquétsias, espiroquetas e O cloranfenicol inibe a síntese protéica das células bacterianas, sem, contudo, deixar de interferir nas células da medula óssea dos mamíferos, apresentando, assim, alta toxicidade.
É administrado preferencialmente pela via oral, porém, nos ruminan- tes, é inativado pela flora ruminal. A via parenteral pode ser utilizada quando a droga se apresentar na forma de succinato monosódico. Aparece na maio- ria dos tecidos dentro de meia a uma hora após a administração oral. Atinge as maiores concentrações no fígado, na bile e nos rins e penetra rapida- mente nos tecidos do olho, apresentando grande eficiência em infecções oculares. O cloranfenicol difunde-se nos líquidos cerebroespinhal e pleural, A biotransformação ocorre no fígado, sofrendo conjugação com o ácido glicurônico, para, posteriormente, ser excretado pelos rins, e uma parte considerável é eliminada na forma ativa pela urina.
O cloranfenicol não está aprovado pelo FDA (Food and Drug Admi- nistration), uma organização americana responsável pela fiscalização de ali- mentos e medicamentos. O FDA não liberou o cloranfenicol para uso em animais produtores de alimento, em razão de sua tendência em produzir anemia aplásica em determinadas pessoas susceptíveis.
A recomendação veterinária para o cloranfenicol na Grã-Bretanha tem-se restringido ao uso oftálmico e ao tratamento sistêmico de grandes e pequenos animais, uma vez que estudos laboratoriais e clínicos mostraram não existir outro antibiótico que pudesse ser efetivo. ( British Veterinary Association 1976). Nos Estados Unidos, nunca foi permitido o uso de clo- ranfenicol para animais de produção. Na Austrália, não é permitida nenhuma quantidade de resíduos de cloranfenicol no alimento. Sendo, então, proibido qualquer tipo de administração nos animais de produção. O cavalo tem sido recentemente incluído como animal de produção e, conseqüentemente, o uso de cloranfenicol oftálmico ou sistêmico não é permitido nessa espécie na Recentemente lançou-se no mercado uma nova molécula derivada do tiafenicol, o Florfenicol, que possui maior espectro de ação pela substituição do grupo hidroxila do carbono 3, por um átomo de flúor, e com maior segu- rança por causa da substituição do grupo para nitro por um radical metil- sulfonil, diminuindo a possibilidade do aparecimento de anemia aplásica.
Recentemente o Ministério da Agricultura proibiu a utilização do clo- ranfenicol em animais de produção no Brasil, em virtude do potencial de toxicidade dos resíduos presentes nos produtos destinados ao consumo hu- mano. O mesmo órgão veio, mais recentemente, proibir a utilização também em eqüinos e determinar o recolhimento de todos os produtos à base de cola- ranfenicol das prateleiras das lojas de produtos veterinários. A Figura 5 mostra a estrutura do cloranfenicol.
FIGURA 5 – Estrutura química do cloranfenicol
7.7 AMINOGLICOSÍDIOS
Os aminoglicosídeos formam um importante grupo de antibióticos, dos quais se destacam a estreptomicina, gentamicina, amicacina, tobramici- na, sisomicina, canamicina, neomicina e netimicina. São bactericidas, agem interferindo na síntese protéica bacteriana, promovendo a formação de pro- teínas defeituosas. São ativos contra bastonetes Gram-negativos, principal- mente enterobacteriáceas, Pseudomonas e Serratia. A absorção dos aminoglicosídios no trato digestivo é desprezível; po- rém, são ativos na luz intestinal, quando administrados por via oral. Por essa razão, são administrados por vias parenterais para o tratamento de infec- ções sistêmicas. Distribuem-se bem pelos tecidos, a partir do local da inje- ção. Cátions como Ca+2 e o Mg+2, e o meio anaeróbio, impedem a penetra- ção do aminoglicosídio na célula bacteriana, impedindo sua ação.
A excreção renal é feita por filtração glomerular, eliminando o agente na sua forma ativa. A ocorrência de nefropatia pode provocar níveis altos de aminoglicosídios na circulação, favorecendo a toxicidade.
Os efeitos tóxicos mais comuns desses antibióticos são a nefrotoxici- dade e a ototoxicidade. A figura 6 mostra a estrutura principal da estrepto- FIGURA 6 – Estrutura química principal do sulfato de gentamicina e seus
radicais.
7.8 MACROLÍDIOS
Os antibióticos macrolídios são caracterizados pela presença de um anel lactona macrocíclico em sua estrutura química e apresentam um espec- tro de ação limitado. Em medicina veterinária, os principais macrolídios de aplicação terapêutica são a eritromicina, tilosina, espiramicina e o tiamulim.
São ativos contra bactérias Gram-positivas e micoplasma, e possuem boa atividade contra bactérias anaeróbias. Agem impedindo a síntese protéi- Os macrolídios são bastante lipossolúveis, atravessando as barreiras celulares com facilidade. São bem absorvidos, quando administrados por via oral, biotransformados no fígado e parte pode ser eliminada de forma íntegra pela urina. Mesmo administrados por vias parenterais, esses antibióticos po- dem ser eliminados na forma ativa pela bile e novamente absorvidos. São medicamentos muito seguros e seu efeito adverso mais importante é, prova- velmente, a irritação no local da aplicação intramuscular. A Figura 7 mostra a estrutura química da eritromicina.
FIGURA 7 – Estrutura química da eritromicina
7.9 QUINOLONAS
As quinolonas são um grupo de substâncias químicas antibacterianas, com aplicação tanto em medicina veterinária, como em medicina humana. Exis- tem quinolonas de primeira geração e segunda geração (fluorquinolonas).
Primeira geração: ácido nalidíxico, flumequina e o ácido oxonílico.
Segunda geração (fluorquinolonas): enrofloxacin, norfloxacin, ci- As quinolonas são antimicrobianos bactericidas e sua atividade se re- laciona à inibição da enzima DNA girase, impedindo o enrolamento da fita de DNA. Essas drogas não inibem a atividade dessa enzima nos mamíferos.
A via oral é a principal via de administração, e o pico máximo de concentração sérica das quinolonas varia de acordo com a espécie animal.
O grau de biotransformação das quinolonas é bastante variável. O ácido nalidíxico, em sua maior parte, é excretado na urina como um conju- gado inativo; por outro lado, as fluorquinolonas são parcialmente biotrans- formadas, sendo excretadas na urina e na bile em altas concentrações como Têm sido descritos danos à cartilagem articular de cães jovens e po- tros, com a utilização de qualquer fluorquinolona; portanto, é contra- indicada para animais nessa faixa etária. Cristalúria em carnívoros tratados por longos períodos com fluorquinolona também foi observada.
8 - ASSOCIAÇÕES DOS PRINCIPAIS ANTIMICROBIANOS
A associação de antimicrobianos deve refletir o conhecimento do mé- dico veterinário e não a prática condenável de se tentar atingir o agente eti- ológico ao acaso. Portanto, sempre que possível, deve-se evitar a associação de antimicrobianos, restringindo-a a situações especiais.
8.1 SINERGISMO
Exemplos de associações de caráter sinérgico, ou seja, que possuem melhor efeito quando administrados em conjunto.
a) aminoglicosídio + penicilina (estreptomicina + penicilina) 8.2 ANTAGONISMO
Exemplos de associações de caráter antagônico, ou seja, que possu- em pior efeito quando administrados em conjunto.
9. RESISTÊNCIA MICROBIANA A DROGAS
Em virtude da resistência, há sempre necessidade de se criar novos antibióticos. Logo nos primeiros anos da década de 1950, observou-se que a penicilina não era mais efetiva contra estafilococos; então, outros antibióticos foram introduzidos, incluindo cefalosporina, estreptomicina e novobiocina e, para esses antibióticos, em pouco tempo de administração também se obser- vou o mesmo fenômeno de resistência bacteriana.
A causa disso vem do uso abusivo e indiscriminado de antibióticos, o que seleciona bactérias geneticamente resistentes. A falta de exames bacteri- ológicos e de testes laboratoriais de sensibilidade leva o clínico a erros na indicação de antimicrobianos e favorece os agentes infecciosos.
Os meios de resistência são vários e sempre há novas descobertas. Os mecanismos mais conhecidos são: mutação nos cromossomos durante a divi- são celular; mutação de um gene ou múltiplos genes selecionados, o meca- nismo de resistência extracromossômica em que uma estrutura citoplasmática inteira (plasmídeo) é permutada, além do mecanismo de arranjos de genes que conferem resistência plasmidiana às drogas.
A importância clínica da resistência é relevante. Se não mudarmos o conceito de que a resistência pode ser barrada pela introdução de novas ba- ses terapêuticas e não nos empenharmos a descobrir novos recursos, uma simples epidemia estafilocócica poderá matar milhares de pessoas.
Algumas medidas relativamente simples poderiam auxiliar, como a busca de uma antibioticoterapia adequada, a prescrição de antibióticos so- mente quando realmente necessários, o uso correto das doses e uma maior fiscalização para impedir que pessoas inabilitadas possam adquirir essas dro- gas sem orientação de um profissional capacitado. Outras medidas a serem adotadas seria o uso restrito de antibióticos em animais de produção, como já acontece no Reino Unido, retirada temporária de certos antibióticos do mercado, quando o número de bactérias resistentes se tornasse excessivo, e o controle de resistência por meio de resultados obtidos no campo da genética.
Os tempos de meia-vida de alguns fármacos comumente utilizados TABELA 01 – Tempos de meia-vida em diferentes espécies de alguns
agentes antimicrobianos comumente utilizados.
Eqüinos
t ½ = meia vida em horas
10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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ESTRO/EAU/EORTC RECOMMENDATIONS ON PERMANENT SEED IMPLANTATION FOR LOCALISED PROSTATE CANCER D. Ash*1, A. Flynn*1, J. Battermann+1 T. De Reijkeo2, P. Lavagnini#3, L. Blank~3 *Department of Clinical Oncology and Medical Physics, Cookridge Hospital, Leeds. +Department of Radiotherapy, Academisch Ziekenhuis, Utrecht. oDepartment of Urology, Academisch Medisch Centrum, Amsterdam. ~Departme

Protocol

Protocol STER onderzoek ST atus E pilepticus na R eanimatie A. Bouwes1, J.M. Binnekade1, J.H.T.M. Koelman2, A. Hijdra3, J. Horn11 Dept of Intensive Care AMC, 2 Dept of Clinical Neurophysiology AMC, 3 Dept of J. Horn, Intensive Care, Academic Medical Center, Meibergdreef 9, 1105 AZ, Inhoudsopgave Jaarlijks worden er in Nederland ongeveer 7500 patiënten opgenomen na een reanim

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