Palavras-chave: cardioversor desfibrilador implantável/ morte súbita cardíaca/ prevenção primária e secundária da morte súbita cardíaca
JORGE DENNYS VASCONCELOS LÍGIA REGINA VIDIGAL CARDIOVERSOR DESFIBRILADOR IMPLANTÁVEL PREVENÇÃO DE MORTE SÚBITA CARDÍACA EM PORTADORES DE DOENÇA ESTRUTRAL MIOCÁRDICA. BELO HORIZONTE FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS/ CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO JORGE DENNYS VASCONCELOS LÍGIA REGINA VIDIGAL CARDIOVERSOR DESFIBRILADOR IMPLANTÁVEL PREVENÇÃO DE MORTE SÚBITA CARDÍACA EM PORTADORES DE DOENÇA ESTRUTRAL MIOCÁRDICA. Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação em Cardiologia ministrado pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e pela CRW Gestão do Conhecimento Coordenador: Prof. Wagner Cardoso de Pádua BELO HORIZONTE FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Está bem estabelecida a associação de morte súbita cardíaca de causa
arritmogênica e cardiopatia estrutural. É fundamental a adoção de estratégias de
prevenção primária e secundária da morte súbita em associação ao tratamento da
cardiopatia estrutural, principalmente em pacientes de maior risco, como os
portadores de cardiopatia isquêmica ou não-isquêmica e grave disfunção sistólica de
ventrículo esquerdo. Esta revisão objetiva avaliar o uso do cardioversor desfibrilador
implantável como estratégia de prevenção de morte súbita cardíaca arritmogênica
de causa estrutural do miocárdio, comparar a sua efetividade com as drogas
antiarrítmicas e analisar a associação com a terapia de ressincronização cardíaca. O
estudo aborda em separado a prevenção primaria e secundária, revê os principais
ensaios clínicos randomizados e metanálises que validaram a utilização do
cardioversor desfibrilador implantável e destaca as Diretrizes Brasileiras de
Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis elaborada para orientar e
normatizar o seu uso. A análise comparativa dos resultados mostra uma maior
redução de mortalidade com o cardioversor desfibrilador implantável em relação às
drogas antiarrítmicas, o que permite afirmar que é o tratamento mais eficaz para a
prevenção de morte súbita cardíaca. A avaliação custo-efetividade também se
mostra favorável para o implante destes dispositivos.
Palavras-chave: Estimulação cardíaca artificial, terapia de ressincronização
cardíaca (TRC), cardioversor desfibrilador implantável (CDI), morte súbita cardíaca
ABSTRACT
Is well established the association of sudden cardiac death ofarrhythmogenic causeand structural heart disease. It`s essential to adopt strategies for primary and
secondary prevention of sudden death in association to the treatment of structural
heart disease, especially in higher risk patients, as patients with ischemic ou
nonischemic cardiomyopathy and severe left ventricular systolic dysfunction. This
review aims to evaluate the use of the implantable cardioverter defibrillator as a
strategy for prevention of sudden cardiac arrhythmogenic death of structural
myocardial cause, to compare their effectiveness with antiarrhythmic drugs and to
analyze the association with cardiac resynchronization therapy. The study deals
mainsrandomizedclinical trials and meta-analysis that validated the use of
implantable cardioverter defibrillators and highlight the Brazilian Guidelines of the
implantable electronic cardiac devices designed to guide and regulate their use. The
comparative analysis of the results shows a greater reduction in mortality with the
implantable cardioverter defibrillator compared to antiarrhythmic drugs, which allows
affirming that it is the most effective treatment for the prevention of sudden cardiac
death. The cost-effectivenessevaluationalso appears favorable to the implant of
Key-words:Cardiac pacing, cardiac resynchronization therapy (CRT),implantable cardioverter- defibrillator (ICD), sudden cardiac death (SCD), combined therapy.
SUMÁRIO 1 Introdução . 5 2 Metodologia . 6 3 Prevenção secundária da morte súbita cardíaca em pacientes com cardiopatia estrutural . 7 3.1 Principais estudos clínicos . 7 3.2 Recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia para implante de cardioversor desfibrilador implantável . 9 3.3 Principais estudos de custo-efetividade . 10 4 Prevenção primária da morte súbita cardíaca em pacientes com cardiopatia estrutural . 10 4.1 Principais estudos clínicos . 11 4.2 Recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia para implante de cardioversor desfibrilador implantável .14 5 Conclusão .15 6 Referências Bibliográficas .16 1. INTRODUÇÃO
Está bem estabelecida a associação de morte súbita cardíaca de causa
arritmogênica e cardiopatia estrutural, sendo que em75% dos casos a cardiopatia de
base é a doença isquêmica miocárdica [Myerburg, 2001]. A fisiopatologia envolve a
interação entre um evento gerador de instabilidade elétrica com indução de
taquicardia ventricular, que degenera em fibrilação ventricular em 80 a 85% dos
casos [Myerburg, 2001]. A alta mortalidade resultante da recorrência destas
taquiarritmias ventriculares potencialmente fatais estimulou a criação de um arsenal
terapêutico de prevenção da MSC que é composto pelo tratamento farmacológico da
cardiopatia estrutural e pela utilização de drogas antiarrítmicas; pelo tratamento
elétrico por estimulação cardíaca artificial com implante de marcapasso, de
cardioversor desfibrilador implantável e ressincronizador cardíaco (RC) e, pela
abordagem cirúrgica com ressecção do foco arritmogênico, secção do feixe
anômalo, ablação do foco ou da via por crioaplicação, radiofreqüência ou
eletrofulguração empregadas diretamente ou por meio de cateterismo [Zheng, 2001;
A partir do primeiro implante em humanos de CDI que ocorreu em fevereiro
de 1980, na universidade Johns Hopkins University, Baltimore, USA, a terapêutica
das taquiarritmias ventriculares avançou com a evolução do novo recurso
tecnológico [Mirowiski, 1980]. O CDI foi inicialmente utilizado em pacientes
sobreviventes de parada cardíaca por taquicardia ventricular sustentada (TVS) ou
fibrilação ventricular (FV) associada à cardiopatia estrutural [Nisam, 1991]. A
expressiva redução de mortalidade observada nos estudos de prevenção secundária
clareou a imagem terapêutica e as indicações ampliaram-se para cardiopatas com
alto risco desses eventos fatais [Prado, 2007].
Dentre os marcos históricos da estimulação cardíaca artificial pelo CDI, após
o 1º implante, estão a introdução em 1982 da capacidade de cardioversão
sincronizada para permitir o tratamento de taquicardia ventricular; a aprovação pelo
FDA (US Federal Food and Drug Administration) em 1985; a serie de implantes de
CDI Ventak iniciada em 1986 em St. Paul, Minnesota, MN, USA; o primeiro CDI
multiprogramável em 1988 e o primeiro implante sem toracotomia, também em 1988
A evolução tecnológica aprimorou os dispositivos que incorporaram novas
funções de acordo com a experiência acumulada com os resultados das sucessivas
séries de estudos. Atualmente os aparelhos têm o porte substancialmente reduzido
(50 a 70 mL com peso inferior a 100 g); implante por via endocárdica com o gerador
colocado em loja peitoral à esquerda e, detectam e tratam automaticamente as
arritmias com funções antibradicardia, antitaquicardia e desfibrilatório. Além disto, a
utilização de choques de ondas bifásicas prolongou a vida útil do gerador e a
colocação de eletrodos bicamerais com leitura em átrio e ventrículo permitiu, pela
discriminação das arritmias atriais e ventriculares, diagnóstico mais preciso e
tratamento mais adequado, evitando a desfibrilação inapropriada [Prado, 2007].
Com base na alta mortalidade de pacientes portadores de cardiopatia
isquêmica e grave disfunção do ventrículo esquerdo por morte súbita arritmogênica
existe a necessidade de atuar de forma efetiva na prevenção destes eventos. O
presente estudo visa fundamentar a importância da utilização do CDI como um
método muito eficaz de tratamento no arsenal terapêutico das taquiarritmias
ventriculares, contribuindo para encorajar o profissional médico a incluir esta boa
prática e reforçando a segurança deste procedimento quando bem indicado.
2. METODOLOGIA
A revisão de literatura foi realizada em periódicos nacionais e internacionais
com a seleção de textos didáticos e revisões publicadas, além das listas de
referências destas várias fontes e livros.A biblioteca via internet utilizada foi a
PubMed empregando a estratégia que considerou os limites humanos, nos idiomas
de língua inglesa e língua portuguesa, no período de 1980 a 2009. Foram
selecionados os principais ensaios clínicos randomizados e metanálises que
validaram a utilização do cardioversor desfibrilador implantável. A utilização de
alguns artigos científicos fundamenta-se em virtude do seu legado como marco
histórico que não deve ser esquecido. Ainda incluído o posicionamento oficial da
Sociedade Brasileira de Cardiologia - as Diretrizes Brasileiras de Dispositivos
Cardíacos Eletrônicos Implantáveis elaborada para orientar e normatizar o seu uso.
3. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DA MORTE SÚBITA CARDÍACA EM PACIENTES COM CARDIOPATIA ESTRUTURAL
Os pacientes sobreviventes de reanimação cardíaca por arritmias
ventriculares estão em risco de arritmias recorrentes fatais. Durante muitos anos a
principal estratégia de prevenção secundária de MSC foi o emprego de drogas
antiarrítmicas (Arq Bras Cardiol, 2007). Com a introdução do CDI como novo recurso
tecnológico terapêutico, a eficácia relativa destas duas estratégias necessitava ser
3.1 Principais estudos clínicos
O CDI foi inicialmente utilizado para a prevenção secundária da MSC em
pacientes sobreviventes de parada cardíaca por FV ou TV hemodinamicamente
instáveis associadas à cardiopatia estrutural. As primeiras séries de ensaios clínicos
randomizados já comprovaram uma expressiva redução na incidência de MS. Entre
os principais estudos estão: AVID (The Antiarrhythmics versus implantable defibrillators) [The AVID Investigators, 1997], CASH (The Cardiac Arrest Study Hamburg) [Kuck, 2000], CIDS (Canadian implantable defibrillator) [Connolly SJ],
O estudo AVID foi desenhado para comparar drogas antiarrítmicas e CDI em
sobreviventes de parada cardíaca por FV ou que haviam sido submetidos a
cardioversão de TVS com comprometimento hemodinâmico portadores de uma
fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) ≤ 40% com a mortalidade global
como desfecho primário.Um grupo de pacientes foi tratado com implante de CDI e
outro com drogas antiarrítmicas: amiodarona e sotalol. Nos dois grupos o tratamento
específico farmacológico da cardiopatia estrutural foi instituído como a aspirina,
inibidores da enzima conversora, betabloqueadores, e digitálicos quando
clinicamente apropriado. Mais pacientes estavam utilizando betabloqueadores (P<
0,001) e digitálicos (P< 0,04) no grupo do CDI em relação ao grupo de drogas. O
seguimento foi completo para 1.013 pacientes (99,7 por cento). A sobrevida global
foi maior com o CDI, com estimativas não corrigidas de 89,3%, em comparação com
82,3% no grupo de drogas antiarrítmicas em um ano, 81,6% em dois anos, e 75,4%
versus 64,1% em três anos (P <0,02). A redução correspondente na mortalidade
(com intervalo de confiança 95%), com o CDI foi de 39 ± 20%, 27 ± 21% 31 ± 21%,
concluindo a superioridade do CDI às drogas antiarrítmicas para o aumento da
sobrevida global. A principal a este estudo refere-se ao maior número de pacientes
em uso de betabloqueador no grupo CDI [Arq Bras Cardiol, 2007; The AVID
O estudo CASH, iniciado em 1987 e com seguimento mínimo de dois anos,
também teve como objetivo a comparação de drogas antiarrítmicas e CDI em
pacientes sobreviventes de parada cardíaca secundária a arritmias ventriculares
documentadas. Teve como desfecho primário mortalidade por todas as causas. Os
pacientes foram randomizados para implante de CDI ou uso de amiodarona,
propafenona, ou metoprolol. Em 1992 o grupo propafenona foi interrompido, pela
taxa de mortalidade 61% maior que o grupo CDI em seguimento de 11,3 meses e
foram selecionados e incluídos pacientes nos restantes três grupos de estudo
Durante um seguimento médio de 57 ± 34 meses, as taxas de mortalidade total
foram de 36,4% do CDI e 44,4% no amiodarona / metoprolol (P: 0,002). A sobrevida
global foi maior, embora não significativamente, em pacientes atribuídos ao CDI do
que os atribuídos à terapia medicamentosa [Kuck, 2000].-------------------------------------
----- No estudo CIDS o objetivo foi comparar a eficácia do CDI e amiodarona na
prevenção secundária de MSC. Os pacientes elegíveis para este estudo foram: (1)
FV documentada; (2) parada cardíaca que requereu desfibrilação ou cardioversão,
(3) TVS documentada como causa de síncope, (4); TV > 150 bpm associada à pré-
síncope ou angina em paciente com FEVE≤35%, ou (5) síncope associada à TV
induzida ou TV espontânea ou sustentada (30 s) documentada ou TVS monomórfica
induzida por estimulação ventricular programada. Os 659 pacientes selecionados
foram aleatoriamente encaminhados para tratamento com o CDI (328 pacientes) ou
com amiodarona (331 pacientes). Após quatro anos, a mortalidade total foi de 27%
no grupo CDI e 33% no grupo amiodarona, sem significância estatística. Numa
análise multivariada retrospectiva, os investigadores identificaram um subgrupo CDI
em quem todos os benefícios de sobrevivência da terapia com CDI está
concentrada: o quartil de maior risco de base, conforme determinado pela idade
avançada (≥70 anos), baixa fração FEVE (≤35%) e baixa capacidade NYHA (classe
funcional III ou IV). A mortalidade foi de 47% no grupo amiodarona comparada a
27% no grupo CDI (P: 0,002)[Connolly, 2000].-
MAVERIC foi um ensaio clínico randomizado de prevenção secundária de
MSC por TVS ou MSC recuperada. Buscou prospectiva para identificar pacientes
que poderiam se beneficiar mais da terapia com CDI e combinação de antiarrítmicos
por avaliação eletrofisiológica (EP testing) em comparação com a terapia empírica
com amiodarona (). Os resultados mostraram redução de mortalidade no grupo de
pacientes sob uso de CDI. A realização de EEF na demonstrou vantagem [Arq Bras
Os estudos: AVID, CASH e CIDS foram avaliados conjuntamente e o
resultado desta metanálise comprovou a redução de 50% de mortalidade arrítmica e
28% na mortalidade total com o implante do CDI em comparação com a utilização
de drogas antiarrítmicas passando a ser terapia de escolha para a prevenção
secundaria [Moss, 1996]. A análise mais detalhada destes estudos permitiu
identificar a FEVE reduzida (<35%) e não a presença de arritmias, como o grande
marcador de risco para MS [Connolly, 2000]. Após estes estudos o CDI passou a ser
a terapia de escolha para estes grupos estudados.
3.2 Recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia para implante de cardioversor desfibrilador implantável
A Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou em 2007 as Diretrizes
Brasileiras de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis que incluem as
seguintes recomendações para implante de CDI na prevenção secundária de MSC
em pacientes com cardiopatia estrutural:
1. Parada cardíaca por TV/FV de causa não-reversível, com FE ≤ 35% e expectativa
2. TVS espontânea com comprometimento hemodinâmico ou síncope, de causa não
reversível com FE ≤ 35% e expectativa de vida de pelo menos 1 ano (NE A).
1. Sobreviventes de Parada Cardíaca, por TV/FV de causa não reversível, com FE ≥
35% e expectativa de vida de pelo menos 1 ano (NE B);
2. Pacientes com TVS espontânea, de causa não reversível, com FE≥ 35%,
refratária a outras terapêuticas e expectativa de vida de pelo menos 1 ano (NE B);
3. Pacientes com síncope de origem indeterminada com indução de TVS
hemodinamicamente instável e expectativa de vida de pelo menos 1 ano (NE B).
3.3 Principais estudos de custo-efetividade
Analises de custo-efetividade foram realizados para comparação do implante
Dados do estudo AVID de sobrevivência de três anos a foram usados para
calcular a relação custo-eficácia. O implante de CDI teve um custo de US$ 66.677
por ano de vida salva e a terapia com drogas antiarrítmicas US$ 30.761 a 154.768.
Seis e 20 anos de relação custo efetividade manteve-se estável entre US$ 68 000 e
US$ 80.000 por ano de vida salva. Como conclusão, o CDI é de custo
A avaliação de custo efetividade do estudo CIDS mostrou que três fatores
clínicos, idade avançada (≥70 anos), baixa fração FEVE (≤35%) e baixa capacidade
NYHA (classe funcional III ou IV) detêm os benefícios de sobrevivência da terapia
com CDI (KLEIN). Foi estimado que a seleção de pacientes para a terapia de CDI
com base nesses fatores prognósticos faz com que a terapia seja economicamente
mais atraente. O custo por ano de vida salva no grupo de pacientes que apresentava
dois ou mais destes fatores foi de US$ 65.195. Nos pacientes que apresentavam
menos de dois destes fatores, o custo foi de US$ 916.659 [Klein, 2001].
Não há estudos brasileiros avaliando custo efetividade da terapia com CDI
4. PREVENÇÃO PRIMÁRIA DA MORTE SÚBITA CARDÍACA EM PACIENTES COM CARDIOPATIA ESTRUTURAL
A partir das pesquisas em prevenção secundária que apresentaram
resultados muito satisfatórios [The AVID Investigators, 1997, Kuck, 2000, Connolly
SJ 2000], iniciaram-se os primeiros ensaios de prevenção primária, com
elegibilidade para pacientes com FEVE reduzida ao ecobicolor dopplercardiograma
transtorácico e passíveis de desenvolver arritmias ventriculares eletrofisiológico
4.1 Principais estudos clínicos
O estudo MADIT (Multicenter Automated Defibrillator Implantation Trial),
primeiro ensaio clinico randomizado em profilaxia primária de MS, teve como
elegibilidade para inclusão: pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) e
taquicardia ventricular não sustentável (TVÑS) prévios, FEVE ≤ 35%, classe
funcional I a III, com TV induzível não reversível com procainamida. Incluídos 196
pacientes, com segmento médio de 27 meses, comparando o uso do CDI com
agentes antiarrítmicos utilizando a amiodarona (classe III) em 80%. O resultado
mostrou uma redução de 54% do risco de morte nos pacientes isquêmicos com uso
do CDI em relação ao tratamento medicamentoso. As taquiarritmias ventriculares
desencadeadas pelo estudo eletrofisiológico não demonstraram ser um efetivo
marcador prognóstico e, sim como nos trabalhos de prevenção secundária, a FEVE
reduzida foi o grande marcador de risco. [Moss AJ, 1996; Buxton AE, 1999]
Embasado no estudo MADIT iniciou-se o estudo MADIT II (Multicenter Automated Defibrillator Implantation Trial II). Os critérios de inclusão foram pacientes
pós IAM há mais de 30 dias, FEVE < 30, mais de dez extra-sístoles
ventriculares/hora ou pareadas e qualquer classe funcional. Acompanhados 1.232
pacientes, em seguimento de 20 meses, CDI versus tratamento clinico convencional
e, com resultado favorável para CDI, com diminuição de risco de morte em 31%,
nitidamente associada à redução da mortalidade arrítmica [Moss AJ, 1996; Moss AJ,
O estudo MUSTT (Multicenter Unsustained Tachycardia Trial Investigators),
ensaio randomizado para testar a hipótese de que a terapia antiarrítmica induzida ao
estudo eletrofisiológico reduziria o risco de MS em pacientes com doença arterial
coronariana com FEVE ≤ 40%, em classe funcional I - III, TVÑS ou TVS induzidas
por estimulação programada. Segmento médio de 39 meses comparando o
tratamento antiarrítmico, CDI e/ou fármacos e o não uso de antiarrítmicos. Dos 704
pacientes que foram submetidos à randomização, 351 foram selecionadas para
receber terapia antiarrítmica guiada por estudo eletrofisiológico e 353 foram
designados para não receber terapia antiarrítmica. Entre os pacientes atribuídos a
nenhuma terapia antiarrítmica, 96% não recebeu nenhuma terapia. Ao final do
estudo evidenciou-se a redução do risco (55%) de MS nos pacientes com doença
coronariana de alto risco para a terapia com o CDI o que não se observou com as
drogas antiarrítmicas. Este benefício foi observado na mortalidade arrítmica e total
Após estes estudos de prevenção primária embasados em disfunção
ventricular esquerda de etiologia isquêmica, surge o estudo DEFINITIVE
(Defibrillators in Non-Ischemic Cardiomyopathy Treatmente Evaluation). Estudo
randomizado com seguimento médio de 29 meses e com os elegíveis portadores de
miocardiopatia dilatada não isquêmica, FEVE < 36%, extra-sístolia ventricular
freqüente ou TVÑS, utilizando um grupo de 448 pacientes. Este estudo compara a
terapia médica otimizada (TMO) incluindo: diurético, inibidores da enzima de
conversão, betabloqueadores, e espironolactona versus TMO + CDI. Ao final do
segmento houve uma tendência, mas sem valor estático, de diminuição de
mortalidade de todas as causas e redução dos episódios de MS no grupo CDI.
Devido ao pequeno número de pacientes inclusos neste estudo era necessário
aguardar estudos mais consistentes para conclusões definitivas [Kadish A, 2004].
Para dar sustentabilidade devido ao reduzido número de pacientes do estudo
Definitive surge o estudo SCD-HeFT (Sudden Cardiac Death in Heart Failure Trial)
que apresentou um maior poder estatístico para avaliar diferenças na mortalidade do
CDI e drogas antiarrítmicas em pacientes não-isquêmicos, com a inclusão de um
número maior de pacientes. Trata-se de um estudo randomizado com 2521
pacientes com IC e classe funcional II ou III e FEVE de 35%. Para TMO + placebo
(847 pacientes), TMO + amiodarona (845 pacientes), ou TMO + CDI (829 pacientes),
sendo 52% de pacientes portadores de miocardiopatia isquêmica, 48% de origem
não-isquêmica, com objetivo primário para mortalidade por todas as causas. Em
seguimento médio de 45 meses, a terapia com CDI resultou em redução de 23%
(NNT=14) da mortalidade por todas as causas, com razão de chance (RC) 0,77
(intervalo de confiança 97,5%, 0,62-0,96) em comparação com a TCO. A
amiodarona apresentou efeito nulo na mortalidade em relação ao placebo com RC
1,06 (intervalo de confiança 97,5%: 0,86-1,30). A análise de subgrupos demonstrou
um efeito semelhante na redução de mortalidade com CDI nas populações
isquêmicas e não-isquêmicas [Bardy GH, 2005].
Com a publicação dos estudos MADIT II e SCD-HeFT o CDI passa a ocupar
um papel importante na profilaxia primária da MS em pacientes com IC e FEVE de
Em 2004 foi publicado o estudo COMPANION (Cardiac-Resynchronization Therapy with or without an Implantable Defibrillator in Advanced Chronic Heart Failure) com objetivo de avaliação de morte e morte mais internação por
insuficiência cardíaca (IC), comparando o TCO, terapia de ressincronização cardíaca
(TRC) e TRC mais CDI. Com 1520 pacientes sendo elegíveis quando em Classe III -
IV da NYHA, ritmo sinusal, QRS alargado > 120 m/s, PRi =150m/s e FEVE ≤ 35%.
Estudo que teve interrupção precoce devido ter apresentado redução de morte e
internação em 18% para TRC e 24% TRC + CDI e redução de morte de 19,3 para
TRC e 36% para TRC + CDI quando comparados a TCO [Bristow MR, 2004].
O estudo CARE-HF (Cardiac Resynchronization - Heart Failure) foi o primeiro
desenhado para testar a hipótese de que a TRC isolada melhora a sobrevida na IC
[7]. Foram alocados 813 pacientes com IC classe III e IV,FEVE≤ 35% , intervalo
QRS > 120ms, associados a critérios de dissincronia ventricular (exigidos para
intervalos QRS entre 120 e 149 ms). Os pacientes foram randomizados para TMO
ou TRC isolada, com desfecho primário de morte por qualquer causa. Os critérios de
dissincronia utilizados foram retardo pré-ejeção aórtico > 140 ms, retardo na
contração mecânica interventricular > 40ms, ou atraso na ativação da parede
póstero-lateral do ventrículo esquerdo. Durante o seguimento médio de 29 meses,
demonstrou-se redução da mortalidade total no grupo da TRC isolada com RC de
0,63 (intervalo de confiança de 95%, 0,51-0,77). Todos os pacientes estavam em
ritmo sinusal para a inclusão no estudo e mais de 90% da amostra apresentava IC
classe III. Uma diferença significativa do estudo CARE-HF, em relação aos estudos
anteriores, diz respeito ao critério de seleção. A exigência de critérios de dissincronia
cardíaca confirmados pelo ecocardiograma em pacientes com intervalo do complexo
QRS entre 120 e 149ms, possivelmente, diminuiu o número de pacientes que não
O estudo MADIT-CRT (Multicenter Automatic Desfibrilador Trial) implantação
com terapia de ressincronização cardíaca. Foi desenhado para determinar se a TRC
com estimulação biventricular reduziria o risco de morte ou de IC em pacientes com
sintomas cardíacos de ICC, FEVE reduzida e complexos QRS alargados. Foram
avaliados 1.820 pacientes com isquemia ou cardiomiopatia não-isquêmica, num
segmento de 4,5 anos sendo elegíveis os indivíduos com FEVE≤ 30%, duração do
QRS de 130 milissegundos ou mais, e com sintomas classe I ou II da NYHA. Os
pacientes foram aleatoriamente separados em uma proporção de 3:2 para receber
TRC mais um CDI (1.089 pacientes) e apenas o CDI (731 pacientes). O ponto final
primário ocorreu com 2,4 anos, onde 187 do grupo de 1.089 pacientes da TRC-CDI
(17,2%) e 185 de 731 pacientes do grupo CDI - somente (25,3%) (razão de risco no
grupo TRC-CDI, 0,66, 95% de intervalo de confiança [IC], 0,52-0,84, P = 0.001). Os
benefícios não diferiram significativamente entre os pacientes com miocardiopatia
isquêmica e aqueles com cardiopatia não-isquêmica. A superioridade do TRC foi
impulsionado por uma redução de 41% no risco de eventos de IC, conclusão de que
ficou evidente principalmente em um subgrupo pré-especificado de doentes com
duração do QRS de 150 ms ou mais. A TRC foi associada com uma redução
significativa em volumes do ventrículo esquerdo e melhora na FEVE. Não houve
diferença significativa entre os dois grupos no risco geral de morte, com uma taxa de
mortalidade de 3 % ao ano. Eventos adversos graves foram raros nos dois grupos. A
colocação do CDI, melhora a sobrevida reduzindo o risco de morte súbita, mas não
diminui a recorrência da ICC quando comparado a TRC-CDI, onde esta, além da
redução de morte súbita na mesma proporção do CDI mostrou ser uma terapia
adjuvante eficaz em reduzir a ICC de etiologia isquêmica ou não isquêmica; melhora
do remodelamento negativo e da taxa de hospitalização em pacientes classe
funcional III ou IV da NYHA [Arthur JM, 2009].
O uso de TRC e CDI associada à TMO vêm se consagrando cada vez em
pacientes portadores de isquemia miocárdica, miocardiopatias isquêmicas e não
isquêmicas, onde reduzem câmaras cardíacas, melhora do nocivo remodelamento
cardíaco, melhora da FEVE e, conseqüente redução de hospitalizações. Melhora a
qualidade de vida aumentando a sobrevida, uma vez que reduz a morte súbita.
Assim como nos estudos de prevenção secundária, estes estudos de prevenção
primária mostraram que o fator preditor de MS está mais relacionada à disfunção
ventricular com FEVE abaixo de 35% do que as arritmias propriamente ditas.
4.2 Recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia para implante de cardioversor desfibrilador implantável:
As Diretrizes Brasileiras de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis
também incluíram as seguintes recomendações para implante de CDI na prevenção
primária de MSC em pacientes com cardiopatia estrutural:
Sobreviventes de IAM há pelo menos 40 dias ou com cardiopatia isquêmica crônica,
sob tratamento farmacológico ótimo, sem isquemia miocárdica passível de
tratamento por revascularização cirúrgica ou percutânea e expectativa de vida de
1. FEVE ≤ 35% e CF II-III, ou FEVE ≤ 30% e CF I, II ou III (NE A);
2. FEVE ≤40%, TVNS espontânea e TVS indutível ao EEF (NE B).
1. Pacientes com cardiomiopatia dilatada não isquêmica, CF II-III, com FEVE ≤ 35%
e expectativa de vida de pelo menos 1 ano (NE A);
2. Pacientes com cardiopatia isquêmica ou não-isquêmica, CF III-IV, FEVE ≤ 35%,
QRS ≥ 120ms, para os quais tenha sido indicada TRC e expectativa de vida de pelo
1. Pacientes com cardiopatia passível de correção cirúrgica ou percutânea (NE B);
2. Pacientes com cardiopatia isquêmica e FEVE ≥ 35% (NE B).
Vale ressaltar que apesar do alto custo desta terapia ainda se enquadra como
custo efetivo o que a torna viável. O estudo CIDS abriu a possibilidade de
segmentação mais refinada da terapia com CDI, que não só irá resultar em grande
economia de custos, mas também minimizar o impacto negativo sobre a vida do
paciente, como de choques inapropriados e restrições sobre a condução [Klein,
1999]. Os pacientes que sobrevivem a FV ou TVS estão em um risco elevado de
morte devido a uma recorrência da arritmia onde o CDI interrompe estas arritmias.
5. CONCLUSÃO
A análise das publicações, em periódicos da literatura médico - científica que
acompanharam a introdução e evolução do CDI, confirma a sua importância no
arsenal terapêutico complementar e suplementar da prevenção da MSC em
portadores de doença estrutural miocárdica.
O CDI é considerado o principal avanço para a prevenção de MSC quando
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESTRICTIVE CARDIOMYOPATHY Restrictive cardiomyopathy (RCM) is a rare form of heart muscle disease that is characterized by restrictive fil ing of the ventricles. In this disease the contractile function (squeeze) of the heart and wal thicknesses are usual y normal, but the relaxation or fil ing phase of the heart is very abnormal. This occurs because the heart muscle is stiff and poorly comp