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impossível, distinguir o que é alusão do que não é. Isto que se
Mas o N.T. também cita as Sagradas Escrituras hebraicas segundo
diz sobre o Apocalipse diga-se igualmente a propósito dos
a hermenêutica do cumprimento (Mt 2,23; 4,14; 8,17; 12,17; 13,35;
evangelhos, dos Actos e das cartas2. A diferença reside no
16,21; 21,4; 26,54; Lc 9,22; 17,25; 22,37; Mc 8,31; 14,49; Jo 12,38;
facto de que nestes últimos encontramos muitas referências
13,38; 15,25; 17,12; 19,24.28.36) e da conformidade com as
explícitas introduzidas como tais3. Estes escritos assinalam
Escrituras Hebraicas (Mc 14,49; Mt 5,7; 15,11; 26,56; Lc 4,17-21;
assim de modo claro nas respectivas citações que
16,29-31; 24,27; Jo 5,47; 19,28; 1 Cor 15,3-5)8.
reconhecem a BH como revelação divina … este
Mas por que motivo cardeal Martini interpelou em 1999 o Sínodo
reconhecimento de autoridade varia segundo os casos. Por
dos Bispos sobre a Europa sobre o lugar e a necessidade de
vezes encontra-se em simples contexto de revelação o
redar outra vez aos jovens os livros da Escritura enquanto livro do
Esta é uma Palavra que nos une precisamente porque
simples verbo legei, ‘ele (ou: ela) disse’, sem um sujeito
futuro do continente europeu? De certo porque é essa a grande
expresso, como mais tarde nos escritos rabínicos.Por vezes
inscreve a experiência que da Palavra de Deus homens e
tradição europeia. Quanto mais se abeirou do texto no espírito
o sujeito é expresso: é ‘a Escritura’, a ‘lei’, ou ‘Moisés’ ou
mulheres fizeram. Isto faz então desta palavra escrita uma
que inspirou o texto, a Europa encontrou sempre sabedoria, luz
palavra autenticamente humana e que no mínimo é segunda
‘David’, sobre o qual se diz que foi inspirado, ‘o Espírito
para o seu caminho, conseguiu distanciar-se criticamente do
Santo’, ou ‘o Senhor’ como diziam os oráculos proféticos4.
(Hans Urs von Balthasar) face à Palavra primeira que é o
mundo e dialogou com a cultura, elevou-a. Mas porquê, por que
próprio desejo da auto-comunicação de Deus. Logo, esta
Mateus apresenta por duas vezes uma fórmula complexa que
palavra escriturística é uma Palavra no meio de muitas outras,
indica quer o locutor divino quer o mensageiro humano: ‘isto
que foi dito pelo Senhor por meio do profeta que diz .’ (Mt
Nela o leitor encontra sempre os grandes paradigmas. A lectio
o que faz precisamente do cristianismo não uma religião do
divina poderá ser actualmente um campo fértil, não arcaico.
livro. A fé cristã vive numa relação a um livro (a Bíblia)
1,22; 2,15). Em outras ocasiões a menção do Senhor permanece implícita, sugerida apenas pela escolha da
Permite o aprofundamento acompanhado e contemplativo do
precisamente porque à boa maneira semita não o possui (não
preposição dia, ‘por meio de’. Nestes textos de Mateus o uso
mistério profundo de Deus, para lá dos conhecimentos técnicos
existe o verbo “ter” na língua de Israel), mas tão-somente esse
da exegese. Precisamente em virtude destas qualidades têm
livro foi-lhe concedido à existência para ela (comunidade
do verbo ‘dizer’ no presente tem o efeito de apresentar as citações da Bíblia Hebraica como uma palavra viva, cuja
vindo a ser recuperados para a própria exegese bíblica os
crente). Não é a comunidade para o livro mas o livro para a
dados destas práticas antigas e sábias da Igreja. Nelas a Igreja
comunidade. A fé cristã vive desta referência, mas que não
renasceu, os mosteiros foram centros de vida, e o anúncio do
esgota a realidade do mistério de Deus. Assim, quer Israel
“Em vez do verbo dizer o termo mais utilizado para introduzir
evangelho foi cimentado. A scala claustralium, como dizia Guigo
quer a tradição cristã vivem da hermenêutica sacramental da
as citações é frequentemente o verbo ‘escrever’, e o tempo
II, prior da Grande Cartuxa em 1145, permite o crescimento
escuta também desta palavra escrita. É a mesma, em tempos
em grego é o perfeito, tempo que exprime o efeito permanente
espiritual e também teológico. Um não é separável do outro. O
diferentes. Por isso, a Bíblia não é apenas um livro, mas o
de uma acção passada: gegraptai, ‘foi escrito’, e daí para a
mundo judaico adoptou outra metodologia influenciado pela
Espírito fá-la Palavra de Deus, o mesmo que a inspirou e que
frente ‘está escrito’”6. Por vezes o Novo Testamento utiliza
tradição rabínica. Também buscou sentido e sabedoria no texto
inspira a sua hermenêutica. A união à Palavra de Deus une a
textos da Bíblia Hebraica para argumentar. Aparecem então
tradição cristã à tradição tanáquica de Israel, na medida em
as expressões “como está escrito” (Mt 26,31) ou “porque está
confrontando vários textos afins (pela gezerah shawah),
que esta é a sua primeira parte escriturística. Não admira
escrito” e “a Escritura não pode ser abolida” (Jo 10,35)7.
modificando quando necessário a leitura do texto (pela ‘al tiqrê)
portanto que o Novo Testamento cite profusamente o Antigo,
ou comparando o oximórico através da técnica rabínica do qal
pois trata-se efectivamente da mesma Palavra. Em 2001, a
wahomer. Os Sermões do nosso Padre António Vieira, os
Comissão Bíblica apresentou uma reflexão sobre o lugar das
Diálogos de Frei Amador Arrais9, os comentários aos Salmos de
escrituras judaicas no corpo bíblico cristão1. Desse documento
2 No evangelho de Mateus contam-se 160 citações implícitas e alusões; 60 no
Frei Bartolomeu dos Mártires, os escritos do Padre Manuel da
evangelho de Marcos, 192 no evangelho segundo S. Lucas, 137 no de S.
Nóbrega, do padre Manuel Bernardes, de Frei Agostinho da
João, 140 nos Actos, 72 na carta aos Romanos, etc.
“As reminiscências da BH [Bíblia Hebraica] no N.T. contam-se
3 38 citações em Mateus, 15 em Marcos, 15 em Lucas, 14 em S. João (no
Cruz, e de Frei Heitor Pinto, todos eles ajudaram a interpretar o
às centenas, mas a sua identificação é bastante discutida. Só
evangelho), 22 no livro dos Actos, 47 só na carta aos Romanos, e por aí
seu tempo relendo e enriquecendo-o à luz do texto bíblico.
para dar um exemplo, tenha-se em consideração que o livro
Assim, por exemplo, se defenderam os índios no Brasil ao
do Apocalipse não contém nenhuma citação explícita da Bíblia
4 Sujeitos expressos: “a Escritura” (Rom 9,17; Gal 4,30), “a lei” (Rom 3,19;
tempo das Descobertas, biblicamente inspirada essa defesa
7,7), “Moisés” (Mc 7,10; Act 3,22; Rom 10,19), “David” (Mt 22,43; Act 2,25;
Hebraica, mas é um verdadeiro tecido de citações e de
também com a crítica e a denúncia dos profetas de Israel.
4,25; Rom 4,6), “o profeta” (Mt 1,22; 2,15), “Isaías” (Mt 3,3; 4,14; Jo 1,23;
alusões. O texto do Apocalipse está de tal forma impregnado
12,39.41; Rom 10,16.20), “Jeremias” (Mt 2,17), “o Espírito Santo” (Act 1,16;
do texto do Antigo Testamento, que é difícil, se não mesmo
Heb 3,7; 10,15), “o Senhor” (Heb 8,8.9.10; Jer 31,31.32.33).
5 Cf. PONTIFÍCIA COMMISIO BÍBLICA, Il popolo ebraico e le sue Sacre Scritture,
9 Cf. Frei AMADOR ARRAIS, Diálogos (Coimbra 1589), edição MÁRIO
1 Cf. PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, Il popolo ebraico e le sue Sacre Scritture,
GONÇALVES VIANA, [= Colecção Clássicos Antigos e Modernos Série A], Porto,
7 Cf. Ibidem, 23 (nº 5). Cf. 1 Tim 3,15; 2 Ped 1,20-21.
Mesmo olhando-a apenas como o património da mitologia do
eterno retorno reencarnacional. Este tempo finalizado é o
ainda são divergências mesmo do ponto de vista canónico: a
ocidente, a Escritura tem vindo aos poucos a ser integrada
tempo da tradição genesíaca, a qual seculariza já em Israel a
lista, algumas questões de hermenêutica.
nos currículos universitários. Não é possível compreender a
relação de Deus ao mundo respeitando a liberdade humana, o
Esta Palavra une-nos porque é a mesma para toda a
cultura e a Europa sem as suas raízes bíblicas, como também
mesmo é dizer, respeitando a justa autonomia das realidades
universalidade. A escuta da Palavra religa o leitor ao seu
não é possível revivificar ambas sem essas raízes.
mistério e ao de Deus. Pela mediação da Escritura, o crente
O cristianismo é uma palavra. Lemos muitíssimas vezes estas
Ao nível da organização social, este texto une-nos à volta da
reencontra a questão de Deus, no fundo reencontra a questão
palavras, porque nelas encontramos sentido, ou seja, tal
defesa da família monogâmica, fornece-nos o código de
do sentido. Por isso, “a Igreja sempre venerou as divinas
acontece porque a palavra nunca se esgota na escrita e a
interpretação da cultura do ocidente e da própria arte. Dá à
Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor … pois
realidade é maior do que as palavras. Por isso, a essas
cultura Europeia o lugar do sujeito como actor primacial da
nelas Deus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos”
realidades as palavras da Escritura nos remetem. A Escritura
sua própria história, fundamentando esse lugar primacial na
(DV 21). As Escrituras, com efeito, ex-piram Deus na tradição
abre a uma Palavra, a uma Palavra de sentido, logo que unifica,
dignidade inalienável de cada ser humano, que assim o é na
católica e in-spiram Deus na tradição da Reforma ou
abre à presença de alguém a Alguém. Abriu a Europa a uma
sua própria natureza porque criado à imagem e semelhança
enformam a relação ao Deus da aliança na tradição hebraica.
transcendência de si mesma. Por isso é uma palavra que fala.
de Deus, ou seja, é colocado por Deus como senhor da
Neste processo de interpretação importa tomar alguns
Não apenas diz. Há muita gente hoje a dizer muita coisa por
criação e aberto à transcendência. Este respeito da defesa da
escrito ou oralmente, mas não dizem nada. Falam falam,
dignidade humana é tutelado na tradição judaico-cristã pela lei
a) O risco do escolaticismo enquanto forma da cativeiro do
escrevem escrevem, mas não dizem nada. Não são palavra
como factor de sociabilidade. Por isso, a Torah diz que quem
texto bíblico na qual o texto bíblico é reduzido a um mero
porque não têm nada para dizer a quem quer que seja. Quando
não observa a Lei será punido. Isto é afirmado na secção
objecto científico de pesquisa e de exegese como fim em
muito vendem papel. Na Escritura o homem é colocado à altura
propriamente legal, ali onde o mandamento (praeceptum legis)
si mesmo. Deste modo, a investigação analítica poderá
de si mesmo. Por isso, espera do outro uma palavra. A Escritura
é seguido da indicação da sanção (sanctio legis). Estes são os
tornar-se céptica face ao texto, e os sermões
judeo-cristã ensina a Europa a tratar o homem como homem,
transformam-se em veículos de informação sobre o texto;
como próximo, como frater, e não apenas como número ou
Continua a Sagrada Escritura a oferecer uma mundividência
b) O risco do culturalismo que consiste no uso consciente
cidadão (Roma), ou ente (Grécia). Ora, Jesus nos evangelhos
orgânica, onde Deus e o homem têm lugar. Ora, actualmente a
ou inconsciente da Escritura para justificar uma situação
também assume a crítica às ditas mundividências abstractas
cultura parece poder ser declarada como dominada pela
cultural, promovê-la, ou defendê-la a todo o custo, como
segundo as quais o homem é um cidadão abstracto imerso num
chamada “morte de Deus”, por um “ateísmo estrutural”10 (Eugen
se esse fosse o objectivo do texto bíblico e da sua leitura;
estado ou numa ideologia. Neste sentido, na Escritura o
Biser). Mas também o texto bíblico nos relata como Israel morre
c) O risco do moralismo como velha propensão da
próximo é uma palavra e encontra uma palavra.
quando faz Deus morrer. Essa é a crítica profética da idolatria,
homilética, da tradição rabínica e da pregação. É no
Liturgicamente, esta palavra une-nos na celebração e no ritmo
que nunca deixou de estar presente ao longo da história da
entanto uma redução do texto bíblico. A Palavra de Deus
do tempo. Na primavera é celebrada na festa dos ázimos (ou
Europa. É uma experiência, mais uma, paradigmática.
é um desafio à conversão, mas os textos não querem ser
massôt) cuja simbologia é integrada na haggadah da festa da
No que à hermenêutica bíblica diz respeito assiste-se
Páscoa. A festa do Verão é incorporada na festa da ceifa (ou
actualmente a uma desconfessionalização da exegese bíblica.
d) O risco do compartimentalismo que silencia alguns
qasîr), também chamada festa das semanas (shavuôt) e que
aspectos da existência humana, fazendo uma
Este movimento tem vindo a ser acolhido sem receio no seio
está na origem do nosso Pentecostes. A festa do Outono é
da teologia católica desde há várias décadas. Tal permitiu a
interpretação estanque dos textos ou só de uma parte
reinterpretada na festa das colheitas (ou asîf), também
formação de comissões mistas ao nível do diálogo ecuménico
chamada festa das sukkôt por alturas de Setembro (cf. Ex
e ao nível do dialogo inter-religioso. Todavia, subsistem
O risco do biblicismo enquanto risco de elevar o texto
23,15-16; Lev 23,4-22). A festa dos Purim de Ester está na
diferenças com a interpretação de algumas passagens do
bíblico acima da Boa Nova que pretende anunciar. Nessa
origem remota do nosso carnaval, e a nossa festa do Natal é
texto bíblico. Alguns destes problemas são de ordem teológica
altura, a Escritura fala apenas a sua própria linguagem, e
uma tradução convencional da festa hebraica da Hannukah, a
no que toca à escatologia, à salvação, à estrutura da Igreja, à
talvez a linguagem dos especialistas. Normalmente, o
festa da rededicação do tempo de Jerusalém após a blasfémia
função do primado, à tipificação do ministério (ordenado ou
biblicismo faz mais fé na palavra bíblica do que na Palavra
de Antíoco IV Epífanes no tempo da resistência macabaica de
de Deus. Prega-se mais a Bíblia do que o Evangelho, e
não) no feminino, às questões concernentes ao divórcio e ao
casamento. Outras dificuldades são do foro canónico-
nesse momento já não se consegue pôr Deus a falar.
A Escritura dividiu mesmo o calendário com Cristo como ponto
jurisdicional, como a relação entre a Igreja universal e as
José Carlos Carvalho (Fac. Teologia, UCP, Porto),
de referência. Ele é o centro do tempo, do calendário. Esse
Igrejas particulares ou a relação da Igreja a Israel. E outras
Comunicação em Diálogos com a Bíblia.
tempo é um tempo histórico, finalizado, aberto a um futuro de
A Palavra que nos une, Porto, 13 de Novembro de 2007
esperança. É um tempo dado e a construir. Não é um tempo
fechado, vergado a algum destino. Não é o tempo grego do
10 Eugen BISER, Pronóstico de la Fe. Orientación para la época
ESTA FOLHA FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO DE
postsecularizada (1991), Barcelona 1994, 485.
PASTORAL UNIVERSITÁRIA INFORMA DE NOV./ DEZ. 2007
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